Maio 19, 2024
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“It is a truth universally acknowledged, that a single man in possession of a good fortune, must be in want of a wife.”

“É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro que possua uma boa fortuna deve estar necessitado de uma esposa.”

E com essas palavras, Jane Austen começou um dos maiores romances da literatura. Ela é tão genial que nessa única frase dá pra perceber várias dos temas da narrativa: óbvio que a verdade universal está sendo dita de forma irônica, como grande parte das afirmações durante a história. E claro que o ‘must be in want of a wife‘ é uma afirmação que vem da sociedade, e não da realidade. E certamente que o solteiro rico procurando esposa é um dos temas centrais da história.

O conto de fadas segue Jane e Elizabeth, duas irmãs de classe média que não tem opção de futuro a não ser se casar, e de preferência com um homem abastado. Enquanto Jane logo se apaixona por Mr. Bingley, um jovem rico, bonito e atencioso, Elizabeth imediatamente se desentende com Mr. Darcy, um jovem rico, bonito e arrogante. O romance vai se desenrolando, cheio de desentendimentos e desencontros, com Jane crédula e Elizabeth sarcástica, Bingley inocente e Darcy presunçoso.

E o que é que faz de Darcy o favorito de todas as moças por quase duzentos anos? À primeira vista, ele é o que todos os chorões reclamam: ele é grosso e mala, mas vocês ignoram essa parte só porque ele é rico e bonito. Mas vamos olhar com calma. Darcy salvou a irmã e nunca a culpou pela indiscrição, numa sociedade em que ela teria tido a reputação destruída por suas atitudes. Ele se culpa pelo que aconteceu com Lydia, faz de tudo para resolver o problema, se une ao homem que ele mais detesta, tudo isso por que está apaixonado, e tudo isso sem querer ser identificado ou agradecido: ele faz as boas ações sem esperar nada em troca. Ele percebe sozinho como ele foi errado nas suas opiniões, tenta ao máximo desfazer o mal que fez com Jane e Bingley, até fica de birra com a própria família quando maltratam Elizabeth – em suma, demonstra através das suas ações que de fato mudou por ela, em vez de só falar que ia mudar. É essa atitude que as moças apreciam –  mesmo que sim, ele ser bonito, rico e alto tenha muito a ver com a história.

Afora o romance fofo, como pano de fundo de fundo da história temos a situação da mulher de classe média dentro da sociedade inglesa do início do século XIX; passando por duas visões de mundo opostas: o povo das antigas quer manter tudo como está, e não aceita mudanças de classe nem alpinistas sociais; o povo jovem e moderno está mais interessado em uma afinidade pessoal, respeito mútuo e relacionamentos baseados no amor e não no financeiro. Enquanto Eliza e Jane se divertem nas mansões, na vida real uma das irmãs delas é quase arruinada por um jovem de má reputação, e por pouco não fica destinada a ser abandonada pela família e virar prostituta, e a melhor amiga de Elizabeth não tem escolha a não ser se casar com um homem estúpido e desinteressante, já que nunca foi bonita e está ficando velha.

Há diversos personagens engraçados e caricatos, como Mrs. Bennet, a mãe das meninas, que só tem um assunto e um objetivo: ver as filhas casadas; ou Lady Catherine, um pilar de arrogância que faz questão de fazer caridade e receber os devidos elogios. Mas o livro também contém pessoas mais discretamente interessantes: Mr. Bennet, indulgente, omisso e sempre irônico, fadado a uma vida infeliz com a esposa com quem se casou e se arrependeu; Mary, “a irmã feia”, que também não é muito inteligente mas se dedica aos estudos como única forma de destaque; Mrs. Hurst, que se casou com um homem obviamente preguiçoso e gastador, e agora depende da boa vontade do irmão mais novo para manter o padrão social.

Toda vez que releio eu volto para um universo paralelo onde eu vejo as adaptações de 95 e 2005, e Bride and Prejudice, e The Lizzie Bennet Diaries, e Austenland pra fechar o arco. Cada releitura revela algo novo e interessante, e o livro nunca perde o charme. São duzentos anos de ironia que a gente nem sempre entende, de diálogos românticos imaginados, de frases deliciosamente irreverentes e da melhor cena de recusa de pedido de casamento, sem competição. A tradução da L&PM Pocket está muito boa, e dá pra curtir a prosa da autora com tranquilidade. Certamente um dos melhores e mais favoritos livros no mundo inteiro, e um livro que nunca canso de recomendar.

Pride and Prejudice (1813) – de Jane Austen 

1 thought on “Orgulho e Preconceito | Jane Austen

  1. Não tem livro que me chame mais atenção que esse. Orgulho e Preconceito tem falas tão inteligentes e uma narrativa tão bem montada que eu não consigo tirá-lo da lista dos meus livros preferidos.Mr. Darcy, pra mim, sempre foi o homem *dos sonhos* com defeitos toleráveis. Afinal, ninguém é perfeito e nem mesmo ele foge a essa regra. Eu simplesmente adoro esse livro.

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