Maio 18, 2024
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Cinderella encontrou seu príncipe, se casou e viveu feliz para sempre. Duzentos anos depois da sua morte, o reino onde ela viveu a tem como ideal de feminilidade. Quando as garotas fazem 16 anos, são obrigadas a irem para o baile do príncipe, com suas melhores roupas, para serem escolhidas para se casar com os homens do reino. As que tem melhores chances são as mais belas, mais educadas, mais adequadas e com melhores roupas. Todas as casas possuem um retrato da Cinderella aprovado pela coroa pendurado em local proeminente.

Além disso, grande parte da economia do reino gira em torno das roupas e sapatos para o dia do baile das garotas, e existe até uma série de poções teoricamente mágicas que podem fazer a sorte da garota aumentar. As crianças crescem lendo a história autorizada da Cinderella todos os dias, e é proibido falar mal dos governantes ou questionar a história do livro. As garotas que não são escolhidas durante o baile nunca mais são vistas.

Sophia é uma garota negra de dezesseis anos e está no momento de se preparar para o baile; mas ela é apaixonada por sua melhor amiga de infância, Erin, e está decidida a fugir do reino para viver com ela. Na hora da fuga, Erin desiste e diz que prefere “fazer parte do sistema”, não quer fugir, tem medo do que pode acontecer com sua família. Desapontada, Sophia decide fugir sozinha.

Ela vai parar no cemitério do palácio, e encontra o mausoléu da própria Cinderella. Lá, ela tromba com Constance, uma moça ruiva vestida com roupas de homem. Constance é uma das últimas descendentes das step-sisters da Cinderella, e ela ajuda Sophia a fugir da cidade. Elas vão até a casa onde Cinderella cresceu, que hoje está em ruínas. Constance mostra a Sophia um livro com a história da Cinderella, mas esse livro é diferente do aprovado pela cora: tem cenas a mais!

Sophia percebe que grande parte do que ela ouve sobre sua sociedade são mentiras, e decide destruir o governo junto com Constance para salvar Erin e todas as outras garotas do baile. Para isso elas decidem entrar na floresta proibida para conseguirem falar com a bruxa que vive lá. Foi essa bruxa quem deu o sapatinho e o vestido encantados para Cinderella, e ela pode decidir ajudar Sophia e Constance – ou pode fazer alguma magia terrível, já que vive em uma floresta maligna e não é vista há mais de 200 anos.

Esse é um livro que me chamou a atenção imediatamente pelo título, pela capa e pela premissa: uma garota negra e lésbica lutando contra os governantes machistas num país de fantasia onde contos de fadas são realidade não é uma coisa você vê todo dia.

Durante a leitura, eu fiquei muito interessada na história. Queria muito saber onde a protagonista ia parar, gostei bastante da Constance, o mistério do que ocorreu realmente na época da Cinderella, qual é do tal príncipe – tudo isso foi o suficiente para a leitura ser rápida e divertida. Eu achei a ambientação fora do comum e adorei a ideia de fantasia distópica, onde as moças vão no baile lindas mas o governo autoritário prende qualquer um que fale algo contra o sistema.

Agora as coisas que me incomodaram. Senti que alguns coadjuvantes poderiam ter sido melhor aproveitados, eu queria maior participação do Luke, mais tempo com os pais da Sophia, e a Erin some logo no começo, poxa. Nem é algo que necessariamente estrague o livro, até porque lá pra terceira parte do livro, é tanta correria e tantos cenários de ação diferentes que nem dá pra acompanhar muito bem. Esse monte de reviravolta também incomoda um pouco e a magia não fica muito bem explicada.

Mas o principal problema pra mim é a voz da protagonista. Sophia não fala nem pensa como uma garota que passou a vida toda em um sistema totalitário. Ela fala e pensa como uma garota de dezesseis anos que vive hoje em dia, e que nunca passou dificuldades nem foi contrariada, nem muito menos enfrentou soldados ou viveu fora da cidade. Ela faz decisões burras (como uma garota dessa idade que viveu numa capital do século 21 super faria também) e a história só vai se adaptando a isso para que ela não morra na primeira oportunidade.

Isso por um lado deixou a história menos emocionante, já que logo dá pra saber que nada de muito ruim vai acontecer com a protagonista já que todos os stormtroopers olham pro outro lado quando ela passa, mas também estabelece o livro firmemente no território de literatura juvenil de hoje: não pode gritar muito se não o leitor assusta. É uma pena, acho que os jovens precisam de uma sacudida de vez em quando e de algumas cenas emocionantes que não envolvam “ele terminou comigo, vou morrer”.

Certamente que pessoas mais jovens vão se divertir mais que eu. Eu com mais de trinta anos nas costas fiquei menos impressionada com uma distopia tão pouco ameaçadora. Mas eu recomendo o livro de qualquer forma, já que adorei a premissa, gostei muito do estilo da autora e fiquei intrigada durante a leitura.

Vou ler mais livros da moça com certeza.

Cinderella is Dead (2020) de Kalynn Bayron

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