Maio 5, 2024
Home » Adaptação | Orgulho e Preconceito

São tantas e tantas adaptações dessa história infinitamente maravilhosa que é difícil sabermos como começar. Então vamos por partes porque a idéia é longa: quero falar de todas as adaptações que eu assisti. E para ficar mais claro, acho importante dividirmos as questões que de maior relevância numa adaptação.

1: a história vai seguir a do livro ou vai inventar moda?
2: os atores são bem colocados, têm a mesma idade dos personagens?
3: os personagens em si são bem retratados e fazem jus ao livro?
4: as frases célebres são ditas na tela ou não?
5: dá pra assistir sem ter lido o livro, é um entretenimento que pode ser feito sozinho?

A série de 1980

Comecemos em ordem cronológica. A adaptação mais antiga que eu assisti foi essa série de 1980, produzida pela BBC. A história segue a do livro sem problemas, até com exageros de personagens falando em voice over ou falando em voz alta momentos de descrição do livro que poderiam perfeitamente ter sido só filmados. Pontos 1 e 4 estão ok. Eu gostei dos atores, especialmente da Lizzie e da Lady Catherine, mas Jane não é mais bonita que Lizzie e as outras três irmãs são tias de meia idade. Ponto 2 mais ou menos então, e ponto 3 também mais ou menos. E por fim o ponto 5 fica muito aquém; não dá pra assistir essa história sem o livro, só os fãs hardcore que hoje em dia vão atrás disso; a série foi ultrapassada absurdamente pela versão de 1995 e como entretenimento separado não tem a menor graça: trilha sonora exagerada, os voice over tudo errado, e uma interpretação séria demais.

A série de 1995

Uma nova tentativa da BBC, essa mini-série de 6 episódios é considerada pela maioria dos fãs como sendo a adaptação definitiva do romance. E não dá pra discordar. Por mais que existam uma  lista enorme de outras opções, se você quer ter a melhor transposição para a tela do livro, essa é a melhor escolha. Com duas exceções pouco relevantes no elenco, que é o fato de que Jane não é mais bonita que Lizzie e a Lydia parece ter trinta anos, o restante da história é bastante leal ao livro, os personagens têm o mesmo charme, e o ritmo consegue prender o espectador mesmo com tanto material filmado. Impossível não se encantar com o romance, especialmente pelo Mr. Darcy mais favorito entre todos os favoritos, com direito a melhor cena de objetificação de homem já produzida. Ponto 2 fica mais ou menos, e 1, 2 e 4 estão bem ótimos. Sobre o ponto 5, não sei se quem nunca leu o livro vai se interessar pela mini-série, já que são seis horas pra assistir, mas para os que gostaram da história e vieram do filme de 2005, por exemplo, pode ser uma boa pedida.

O filme de 2005

Sem dúvida a versão mais famosa do livro, esse filme é queridinho de muita gente que nem chegou perto da palavra escrita, e é disparado o melhor entretenimento solo, tirando 10 no ponto 5. Teve inclusive muita gente que chegou ao livro e às outras adaptações através dessa produção, que se esmerou no que pôde, considerando a tarefa hercúlea de resumir um romance inconfundível desse num filme de duas horas. O elenco está perfeito e finalmente temos uma Jane mais bonita e irmãs da idade certa. Algumas coisas foram cortadas pela falta de tempo, como grande parte da participação de Wickham e uma irmã inteira do Bingley, mas no fim das contas temos uma versão que serve. Ponto 2 e 3 o filme vai bem, ponto 1 passa e 4 ficam um pouco abaixo justamente pela rapidez necessária já citada. De qualquer forma é um filme lindo lindo, com figurinos maravilhosos, música impecável, cenário incrível. Se é pra se ter uma adaptação só pra escolher, vou ter que escolher essa porque é a mais acessível com toda certeza.

Noiva e preconceito

E se Lizzie Bennet fosse uma moça indiana hoje em dia e Darcy fosse um americano esnobe que quer abrir um hotel perto da cidade onde ela mora? Além disso tem Wickham como um mochileiro de sotaque australiano e Collins como um indiano que mudou para os Estados Unidos e por isso se acha a melhor pessoa. E se todo mundo cantasse e dançasse no melhor estilo de Bollywood? Pois então aí você tem noiva e preconceito. É uma boa adaptação? Não sei. Os elementos estão todos lá, a Lalita (=Lizzie) é mais bonita que a irmã conforme manda a tradição das adaptações, a idéia da mãe doida pra casar as filhas combinou com a mãe indiana, Wickham ganhou um ar bem mais sinistro. Os números musicais são ok, bem bollywood mesmo, e agrada quem gosta e afasta quem não gosta como todos os musicais. Meu problema é com as atuações. Com exceção de mãe/pai/Lalita, e os irmãos Bingley que mal aparecem, o restante do elenco é tão ruim – especialmente ‘Georgie Darcy’ – que a história perde qualquer drama. O mais afetado é Darcy, que deveria ter uma química inigualável com Lalita e só consegue repetir as frases mal decoradas com cara de nada. O ponto 1, portanto, fica até que ok considerando a mudança de ambientação. Apesar de ruins, os atores são bem colocados e têm a mesma idade dos personagens, e afora as atuações, os personagens são parecidos com os do livro. O roteiro faz essa parte pelo ponto 2 e 3. As frases célebres são deixadas de lado, claro, então nem tem ponto 4. E o ponto 5 fica naquelas, né. Se você é a doida do orgulho e preconceito, não vai poder perder esse filme. Se você quer uma comédia de Bollywood, tem uma infinidade de outras opções melhores por aí.

The Lizzie Bennet Diaries

Uma web-série com 100 episódios de 5 minutos cada, essa adaptação pareceu inusitada mas fez um enorme sucesso. Lizzie Bennet é uma estudante de comunicação, que começa a fazer esses ‘diários filmados’ com sua melhor amiga Charlotte Lu como forma de trabalho de faculdade. A mãe de Lizzie tem três filhas, Jane, Lizzie e Lydia, e é obcecada com o casamento delas. Muitos personagens não aparecem em cena, e sim são interpretados por Lizzie usando props como um chapéu pra mãe dela, um cachorro de pelúcia para Lady Catherine (que é a dona de uma mega empresa de comunicação). A criatividade da adaptação é uma delícia de ver, e o formato de web série funcionou muito bem. A reimaginação das questões chave do livro é muito bem feita, e é a melhor dinâmica Lizzie-Wickam-Lydia de todas as adaptações/versões, mesmo que o conflito Lizzie-Darcy e Jane-Bingley deixe um pouco a desejar. Como é uma versão para o século XXI da hisória clássica, o ponto 1 fica mais ou menos: a série fala de todos os pontos do livro, mas de uma forma adaptada. Ponto 2 e 3 são ótimos considerando tudo. Ponto 4: sim! As frases aparecem! E ponto 5, sim, se você conseguir se acostumar com o formato dos episódios curtinhos, dá pra curtir o entretenimento mesmo sem ter o material de base.

Outros

Adaptações/versões que vale a pena mencionar:

Austenland, que mostra uma moça participando de um parque temático de Jane Austen – livro fofo, filme bonitinho, ótimo para os fãs. Lost in Austen, com uma menina que troca de lugar com Lizzie e vai parar dentro do livro – com momentos polêmicos e reinventando várias cenas chave, pode causar reações adversas. A adaptação de 1940 com ninguém mais ninguém menos que Laurence Olivier como Mr. Darcy – muito engraçado ver um filme de época na época dos anos 40, com aquele transatlantic accent tão característico e as roupas completamente aleatórias. Pride and Prejudice and Zombies – o livro é bem legal e não se leva a sério em momento algum, segue a história bonitinha só que zumbis, e o filme tem o pior Darcy de todos e além disso muda a história pra algo apocalíptico, fica bizarro. Todo mundo fala que Diário de Bridget Jones é baseado em Orgulho e Preconceito, mas tá tão longe da história original que só o nome do Darcy vale ser mencionado.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *