Maio 19, 2024
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Grande exemplar do gênero de fantasia da década de 80, com uma ambientação fabulosa, personagens ótimos e uma trama de aventura envolvente. Enquanto os colonizadores que vivem no posto longínquo pouco se interessam pelas atividades dos nativos, uma ameaça maligna se reúne do outro lado das montanhas. A jornada de auto-descoberta fica por conta de Harry, uma moça pouco interessada nos afazeres tipicamente femininos que se vê tendo que escolher entre duas culturas. E acaba envolta numa guerra para salvar seu reino.

Eu nunca vou entender a Robin McKinley. Li dois livros dela bem mais ou menos, daí nem fui ler esse porque não me empolguei – li até a página 14 e desisti porque achei muito entediante: Harry é uma garota pouco convencional que vai viver num posto avançado do império depois da morte dos pais. Ela não é uma lady, apesar de ter sido criada como tal: ela sempre preferiu sair cavalgando no sol do que proteger sua pele alva, e seu irmão mais velho agora se preocupa se ela vai se adaptar à sociedade. Não que ela tenha muita sociedade para se adaptar: o posto do exército em que ela vai morar (como um casal mais velho, ele diplomata) não tem nada nem ninguém, e é só uma cidadezinha na beira do deserto e das montanhas que não fazem mais parte do reino. E aí eu parei porque se nada acontece, né. Qual a graça.

Depois eu vi na sinopse que ela ia ser raptada por um rei das tribos das montanhas, e bom. Aí resolvi voltar, porque sabem como eu fico com romances desse tipo. E olha, fica a lição de vida. Eu larguei o livro na página 14, com todo mundo tomando chá calmamente e Harry entediada até a medula. Na página 15 entra o pessoal da guarnição, super preocupado porque o tal rei feiticeiro resolveu aparecer do nada e ninguém sabe o que fazer com ele. Então, gente, se por acaso vocês estiverem muito entediadas com a leitura, pula umas páginas! Quem sabe a coisa muda drasticamente e o livro fica legal.

E esse ficou legal mesmo!

O rei, que é bonitão e se chama Corlath, é de fato um feiticeiro, mas não no sentido tradicional da palavra: ele de vez em quando é possuído por uma energia mágica que lhe dá poder, mas que também manda nele e ele não tem escolha senão obedecer. É essa energia mágica – que seu povo chama de kelar – que o empurra para raptar Harry. Ele obedece com relutância, porque sabe que isso pode gerar ainda mais animosidade entre seu povo e os colonizadores, povo de Harry (que não sabem que magia existe mas por outro lado andam de Maria-Fumaça e atiram com pólvora). Corlath tenta agir como se Harry fosse uma convidada de honra, e ela, sem escolha, acaba se entrosando com o povo nômade das montanhas. Corlath só percebe que pode haver um bom motivo para o rapto alguns dias depois, quando ele descobre que Harry também tem magia. E ele decide ir até o fim e inserir a moça totalmente na cultura do povo das montanhas: ela recebe um professor gente boa, aprende a cavalgar sem rédeas nem estribo, aprende a lutar, e mais toda a training-montage.

Só que tudo isso acontece sob a ameaça iminente de uma invasão do povo do norte – que tem um exército imenso de coisas que não são humanas. Corlath espera que a magia de Harry possa ajudar o povo das montanhas na guerra, já que os colonizadores não acreditam em “coisas que não são humanas”; não acreditam em magia; não acreditam que os nortistas sejam tantos e nem que eles consigam cruzar as montanhas; e acham que a guerra entre o povo do norte e o povo das montanhas é uma simples “briga entre tribos”. Irritadíssimo com essa atitude, Corlath decide que não vai avisar nenhum colonizador quando o ataque dos nortistas é iminente e aí Harry é obrigada a fazer escolhas que ela não sabe se serão acertadas. Ela se apaixona pela vida nas montanhas e não tem dúvida alguma de que ela prefere ficar ali em vez de voltar à vida entediante de moça-solteira-em-ambiente-vitoriano, mas como deixar os nortistas passarem pelas montanhas e destruírem toda a cidade dos colonizadores?

Harry é uma boa personagem, Corlath também não faz feio, os coadjuvantes são especialmente excelentes – com destaque para a gata selvagem e o cavalo puro-sangue que acompanham Harry por todo lado – e a história tem um ritmo legal que manteve meu interesse após as complicadas primeiras 14 páginas. O livro vale muito a pena – fantasia da melhor qualidade, com aquela pegada anos 80 que é tão legal. E apesar do final dos outros livros da autora ter me desapontado, o final desse não desaponta!

PS para descomplicar a sequência dos livros: A série Damar é complicadinha mas nem tanto: esse é o primeiro livro publicado. Em 84 ela publicou The Hero and the Crown, que se passa antes da história desse livro. E na década de 90 ela publicou mais dois livros que acontecem no mesmo mundo mas não têm muita relação com o povo dos dois primeiros livros. Então dá pra dizer que o livro é um standalone e pode ler sem se preocupar com várias sequências.

The Blue Sword (1982) de Robin McKinley. 

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