Maio 18, 2024
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Como fazer recontagem de A Bela e a Fera

Gente, vamos lá. Não é tão difícil assim.

Tem a moça bonita. Daí temos o cara tem forma de fera por causa de alguma maldição. Ela é obrigada a morar com ela num castelo mágico porque pai. E ela se apaixona pelo monstro mesmo ele sendo feio e peludo e o amor dela faz a maldição dele desfazer e ele vira um príncipe bonito (mas não se for a versão da Disney).

Pra escrever uma adaptação/reinvenção/recontagem de A Bela e a Fera, esses são elementos que precisam estar lá ou ao menos ser justificados. Se ela não tem pai, então por que foi morar com a Fera no castelo? Chamam ela de Belle porque ela é bonita? Ou ela é feia, ou ‘não como as outras garotas’? E daí então por que chamam ela de Bela?

Acima de tudo EXPLIQUEM A MALDIÇÃO. Por que que ele tem forma de bicho e mora num castelo mágico? A versão da Disney pode não ter sido das melhores, mas pelo menos foi explicada: afinal, quebrar a maldição e salvar a Fera de ficar feia pra sempre é meio que toda a história do conto. O romance entre os dois é o que leva à maldição ser quebrada.

No conto original, toda noite a Fera pede pra menina se casar com ele, e toda noite ela recusa. Até que ela pede pra ir embora, e ele deixa, porque se preocupa mais com ela do que com ele mesmo. Isso faz parte do romance.

Daí tem esse.

Robin McKinley investiu no romance e fez Beauty ficar bom por quase três quartos com isso – ela só escorregou na hora de explicar a maldição. Mas nessa adaptação Cameron Dokey esqueceu de DOIS elementos importantes: o romance E a maldição. Aí fica difícil, por mais que eu tenha gostado da protagonista e da família dela.

E outra. Que bom que a autora aparentemente cresceu lendo o livro da Robin McKinley (publicado em 1978). Mas teve horas que parecia que eu estava lendo Beauty – as mesmas coisas acontecendo. Eu fiquei tão confusa que até peguei Beauty pra comparar. Não foi só em detalhes do conto que eles são parecidos. Nos dois livros a Bela tem uma irmã mais velha que se apaixona por um marinheiro e quando ele não volta do mar daí depressão. E tanto em um livro como em outro a família perde tudo e tem que se mudar pra longe da cidade e do luxo.

A autora até tentou dar uma inovada com a história da árvore, mas não me convenceu. A menina passa o livro inteiro e só menciona que gosta de esculpir madeira UMA VEZ, e de repente toda a trama envolve esse detalhe – e ela não consegue esculpir o tal galho da árvore mágica mas não existe nenhuma explicação pra isso, e depois todo mundo esquece esse problema porque a Bela e a Fera se apaixonaram. O livro substituiu o pedido de casamento diário do conto por um pedido de ‘olhe nos meus olhos’ (e me lembrou do Pequeno Nicolau), algo que a Bela não conseguia fazer também sem motivo algum.

A primeira metade do livro é bonitinha, porque a protagonista e sua família são interessantes e têm personalidades distintas. Mas depois que o livro vira cópia de Robin McKinley a coisa perde a graça e nem um romance satisfatório tem pra salvar.

Perda de tempo.

Belle – A Retelling of Beauty and the Beast (2008) de Cameron Dokey. Série Once Upon a Time

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