Os Quinhentos Reinos são assolados por uma magia muito poderosa que pessoas sábias chamam de Tradição. A Tradição empurra pessoas com currículo tradicional para situações tradicionais: no exemplo da vez, Isabella Beauchamps é a moça bonita cujo pai se casa novamente com uma mulher que por acaso já tem duas filhas – e a Tradição faz com que sua madrasta seja desagradável e que Bella corra o risco de sofrer alguma desgraça do tipo ser transformada em empregada da família.
Mas nem mesmo Bella, que é ciente da Tradição e quer fazer de tudo para escapar dela, consegue fugir do inexorável destino. Então quando ela vai visitar a senhora no meio da floresta – que todos chamam de Granny (vovózinha) – a capa que ela pega pra se proteger do frio é… vermelha. E óh! Que barulho é esse? SERÁ UM LOBO?
Não, é um lobisomem mesmo. Que morde Bella e agora uma comissão de pessoas sábias quer deixar Bella isolada num castelo até a próxima lua cheia, pra ver se ela se contaminou ou sei lá o que pode acontecer com uma moça mordida por um lobisomem. Claro que o castelo não é exatamente deserto: o lobisomem mora lá. Ele é na verdade um jovem duque que gosta de ler, não sabe como se transformou em lobisomem e está mesmo muito chateado de ter mordido Bella. Foi sem querer e tal. E olha a Tradição jogando a linda jovem que se chama BELLA para morar num castelo com servos invisíveis com um nobre que é na verdade um monstro.
Ou seja, já que a Tradição foi “impedida” de transformar Bella na Chapeuzinho Vermelho, ela vai tentar transformar ela na Bela e a Fera. A questão é que a Fada Madrinha Elena tá ligada em tudo que rola com a Tradição (pra isso que fadas madrinhas servem nos Quinhentos Reinos: para identificar momentos em que a Tradição pode atrapalhar tudo e achar formas de combatê-la) e o plano esperto dela é usar o lindo amor de Bella e do Duque que chama Sebastian para quebrar a maldição da licantropia dos dois.
O principal problema com esse livro pra mim foi que eu não estava a fim. Eu queria um romance hot com trama interessante e um pouco de aventura e fui fazer o quê lendo uma adaptação de contos de fadas pra pré-adolescentes? Aí fica chato e eu reclamo. Desculpe.
Mas além disso tem a complicação da trama e o romance sem noção. Eu saquei que a ideia do livro foi misturar Chapeuzinho Vermelho com Bela e a Fera, com um triângulo amoroso, magia e lobisomens misturados no meio, mas eu achei que a maior parte das coisas foram jogadas e não resolvidas. O romance da Bella com o Sebastian é sempre deixado óbvio – por causa da Tradição – mas não existe nenhuma cena em que os dois pareçam estar realmente se gostando ou interagindo de forma real. É sempre a Bella impaciente porque o Sebastian é meio cego pra algumas coisas óbvias, e ela explica pra ele e ele fica “nossa, aatah” e é isso. O outro bonitão não chega a ser uma opção de triângulo – ou não deveria ser, na verdade – porque tem uma cena em que ele agarra a Bella sem a permissão dela. E aí rola uns pensamentos dela do tipo “ain mas será que ele não estava só pagando de malvado e na vdd é bonzinho” e não, gata. Apenas não. Na verdade todas as partes relacionadas ao Eric são muito ruins. Já dá pra ver desde o começo que ele vai ser o mauzão (porque logo nas primeiras páginas ele agarra a menina), então pra quê gastar páginas e páginas da Bella “tentando entender as motivações dele”?
E esse Sebastian, jovens. Que cara mais sem graça. Ele é mago, é? Mas mago burro, porque toda cena que ele aparece tá lá a Bella corrigindo alguma coisa que ele fez errado, e tratando ele que nem criança (porque é assim que ele se comporta). E aí rola paixão NAONDE que eu não vi? Eu fiquei o tempo todo revoltada porque ou o Eric tinha uma cena charmosão e NÃO GENTE ESSE CARA QUASE ESTUPROU UMA PERSONAGEM QQ ELE TAFAZENO SENDO CHARMOSO AQUI ou o Sebastian tinha uma cena que eu não sabia se ele tinha vinte anos ou doze. E aí qual a graça de um “””triângulo amoroso””” onde nenhum dos participantes é remotamente atraente?
Mas vou parar por aqui porque vocês já pegaram a ideia. Mercedes Lackey é uma autora complicada. Tem livro que beleza, dá pra se divertir, mas tem outros que são muito difíceis mesmo. Mesmo que grande parte do livro tenha se estragado porque não era o que eu estava na pegada pra ler, a outra grande parte que me irritou é porque é chato mesmo, né. Então fica na lista dos não recomendados.
Beauty and the Werewolf (2011) de Mercedes Lackey. Série Five Hundred Kingdoms Livro 6