Novembro 21, 2024
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Agnieszka adora o vale onde mora com a família, mesmo sua aldeia sendo perto de uma floresta maligna. E mesmo uma das moças tendo que ser escolhida a cada dez anos para ser aprisionada na torre de um mago, mesmo as árvores atacando pessoas e animais, transformando-os em zumbi-planta, mesmo ela sabendo que sua melhor amiga, Kasia, vai ser levada pelo mago assim que for o momento da escolha – mesmo com tudo isso, Agnieszka jamais trocaria aquela terra por qualquer outro lugar.

Só que quando chega o dia em que o mago – que todos chamam de Dragão – vem pra aldeia dela escolher a moça que ele vai levar pra sua torre, em vez de escolher Kasia, ele escolhe Agnieszka, mesmo demonstrando não ter a menor vontade de fazer isso.

Agnieszka é teleportada para a torre, tenta limpar e cozinhar para o Dragão, falhando miseravelmente, até que ele começa a ensinar magia pra ela, no que ela não é bem sucedida de forma alguma, deixando ele mais impaciente, grosso e irritado com ela.

Aos poucos Agnieszka vai descobrindo sua própria forma de fazer magia, ao mesmo tempo em que é colocada logo no centro da luta de centenas de anos que os reinos da região travam contra a floresta maligna.

Ela descobre que a rainha foi perdida no meio da floresta vinte anos antes; que o segundo filho do rei nunca para de ordenar que o Dragão faça uma incursão para recuperar sua mãe; que a floresta é muito mais poderosa e maligna do que ela imaginava, e que ela própria pode ter sido corrompida pela floresta para que o objetivo da entidade terrível se concretize: o continente  inteiramente coberto apenas por árvores sedentas por sangue humano, tendo devorado os habitantes ou os feito enlouquecer até matar uns aos outros.

O cenário é fantasia com um toque da Europa Central / do Norte, e eu não sei dizer se os elementos regionais foram bem utilizados ou não, já que não tenho conhecimento algum sobre essas regiões. Como no fim das contas os dois locais mais bem descritos são as aldeias de onde Agnieszka veio e a corte do rei, que são bem o protótipo de “aldeões com coração de ouro” e “cortesãos dissimulados”, não posso dizer que fez muita diferença.

O relacionamento entre Agnieszka e o “Dragão” foi o mais clichê possível: ele sendo grosso mas aos poucos se interessando por ela, ela sendo maltratada o tempo todo e depois se apaixonando por ele; o poder da magia unindo o casal; velho de mais de cem anos tranquilamente agindo como um adolescente e indo atrás de uma garota de dezessete; e todo o resto que vocês já podem imaginar.

O que de fato me interessou e me fez não só devorar o livro como também quase dar cinco estrelas mesmo com o tédio reportado acima foi a floresta maligna. Como eu adorei essa ideia! A narrativa é bastante tétrica e algumas cenas são devidamente terríveis de imaginar, com os “vermes da corrupção pútrida” infestando as pessoas, as árvores engordando com os corpos das pessoas devoradas; o livro feito de capa de casca de árvore que é responsável pela destruição do palácio de dentro pra fora; a explicação da entidade da floresta ser assim – eu adoro essas coisas de feiticeira boa que vira má e agora quer que todo mundo morra e tal.

Tudo o que tem a ver com a floresta foi especialmente interessante, e até o sistema de magia da história foi legal. Eu nem achei que a Agnieszka virou super heroína, nem que ela resolveu as coisas muito fácil: eu gosto dos livros em que eu meio que sei que vai dar tudo certo, mas eu fico tensa com a possibilidade de todo mundo morrer do mesmo jeito, e é esse tipo de narrativa que me prende. Também gostei muito do relacionamento da Agnieszka com a melhor amiga dela, um pouco diferente do “garotas inimigas” de sempre.

Uma coisa que podia ter passado sem é esse nome idiota do mago. Tudo bem que cada mago tem um nome de animal (só pra depois ela choramingar que não quer mudar de nome e ficar sendo Agnieszka mesmo), mas aí o nome dele é Dragão e a narradora fica tipo “nosso dragão ajuda a gente apesar de roubar uma virgem”, “o dragão é malvado e misterioso mas ele luta contra a floresta-má”, e no fim ele só é mala. Eu entendo o atrativo de fazer um interesse romântico que é “o vilão”, mas primeiro que aqui ele não é – a não ser que você diga que todo homem hétero é um vilão, e aí é outra conversa – e segundo que vamos revisar o que ele tem de vilão? Ele é grosso e não fala com ninguém. Ele obriga uma garota

Apesar do romance lixoso e da ambientação padrão, a floresta-entidade-vilã ganhou todos os pontos, e eu não só super recomendo o livro como certamente vou ler de novo. Muito bom saber que tem gente escrevendo esses livros de romance jovem-adultas que são de fato ótimos!

Uprooted (2015) de Naomi Novik

 

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