Maio 19, 2024
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Jennette McCurdy foi uma criança na televisão, com uma carreira de sucesso em uma série infantil. A mãe dela a pressionou para começar a participar de audições aos seis anos de idade, fez ela virar  anoréxica para adiar a puberdade e conseguir mais papéis infantis, dava banho nela até os 17 anos, era acumuladora, tinha ataques violentos de raiva e chorava por razões como Jennette querer um sorvete de outro sabor.

Jennette conta sua história cronologicamente, em primeira pessoa, começando pela sua infância, passando pelo período da doença e morte da mãe, e finalizando com seu próprio processo de autoconhecimento.

Ao mesmo tempo em que o livro relata experiências extremamente desagradáveis, abusivas e violentas, a narrativa consegue ser leve e divertida justamente pelo talento da escritora. A história não é necessariamente contada usando o passado – e sim usando uma mistura com o presente, colocando a voz da narradora na idade que ela tinha na época.

Como a escritora é excelente, é possível perceber a diferença entre sua ‘voz’ de seis anos quando a mãe persegue o pai pela casa com uma faca; entre sua ‘voz’ da adolescência, que ficou terrivelmente envergonhada quando sua mãe contou para todo o estúdio que ela tinha menstruado pela primeira vez; e sua ‘voz’ adulta, que fica irritada e culpada quando a mãe manipula as coisas para se mudar pra casa dela.

O livro é parte da jornada de cura da ex-atriz, que passou por situações de quase morte por bulimia antes de conseguir pedir ajuda. Ao mesmo tempo em que ela consegue expor as loucuras da mãe, ela também consegue deixar a falecida mais humana, sem tentar desculpar ou perdoar o que foi feito. Afinal, de acordo com um dos terapeutas da autora, às vezes é preciso deixar de ter o perdão como foco, já que achar formas de perdoar abuso parental é exatamente o que a mãe esperaria do filho.

Outra discussão muito importante que o livro tenta trazer é o endeusamento das mães, que são colocadas em um pedestal intocável com o sacrifício e o amor infinito que têm pelos filhos; pessoas que possuem pais abusivos são praticamente proibidas de falar mal das mães ou serão julgados como ingratos, mimados, sem paciência.

Como bônus, o livro também revela momentos bastante problemáticos que a moça passou nos bastidores da Nickelodeon, que a demitiu logo após sua série spin-off de iCarly ter sido cancelada na segunda temporada. Segundo Jennette, a emissora chegou a oferecer US$ 300.000 como bônus da demissão se ela prometesse não falar nada sobre os bastidores da série. Ela recusou. Após a publicação do livro, a Nickelodeon emitiu um comunicado de ‘no comment‘.

I’m Glad My Mom Died é um livro ao mesmo tempo tocante e divertido; terrível e engraçado; angustiante e revelador. Imagino que para quem teve mães ‘complicadas’, o livro seja um sopro de ar puro na sociedade de hoje; mas recomendo a leitura para todos devido não só à autora talentosíssima mas também à narrativa cativante.

I’m Glad My Mom Died (2022) de Jennette McCurdy

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