Maio 19, 2024
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Esse livro está no 11º lugar entre os 100 melhores livros de mistério do universo, de acordo com a Crime Writer’s Association. E merece, tá.
A história começa com Robert Blair, um advogado de cidade pequena, sendo chamado por Marion Sharpe para defendê-la num caso policial. Robert, apesar de não ser especialista em crimes, resolve ajudar Marion por causa da admiração que sente por ela. Marion é uma bela e discreta mulher de meia idade que mora com sua mãe em uma casa antiga nos subúrbios da cidade. A casa é conhecida pelo nome de The Franchise, daí o nome do livro.
A acusação contra as duas é bem séria. Betty Kane, uma angelical garota de 16 anos, diz que foi raptada, torturada e escravizada pelas duas mulheres durante quase um mês. A garota descreveu a casa em detalhes, tanto partes de fora como partes de dentro, assim como descreveu com exatidão as duas mulheres. Marion e sua mãe, que Robert acredita imediatamente que são inocentes, estão completamente abismadas com a acusação, e apesar de achar que as duas parecem ser bem respeitáveis, o inspetor Grant, da Scotland Yard, admite para Robert que as provas estão todas contra elas, e que o júri vai certamente aceitar a versão de Betty Kane.

O livro segue então a desesperada busca de Robert por provas que possam inocentar as duas mulheres não só diante da polícia como também diante do júri, que será muito mais difícil de convencer. A narrativa é bastante lenta e espalhada, detalhando todas as tentativas de Robert no passo a passo da época mesmo: ligar para um conhecido de Londres, gastar com selos nas cartas pedindo informações às rodoviárias, estações de trem, hotéis, para ver onde Betty Kane passou esse tempo em que sumiu de casa. Ao mesmo tempo, os jornais destroem as duas mulheres, aceitando imediatamente a versão da bela garotinha e transformando a vida das Sra e Srta Sharpe em um inferno.

Quanto mais Robert se interessa pela Marion, menos ele tem confiança de que vai conseguir chegar a uma solução: Betty Kane não varia na sua história, os detalhes que ela deu sobre a casa são impossíveis de serem descobertos por alguém de fora, e ela parece ter desaparecido da face da terra por quase um mês enquanto sua família adotiva revirava os hospitais atrás dela com medo de algum acidente.

Apesar do brilhantismo da trama e da leitura fluida, é bom lembrar que o livro é de 1948, e a autora não é livre de preconceitos. Ela é classista quando coloca pessoas pobres como desonestos ou que nasceram para trabalhar para os ricos sem reclamar; acredita em “sangue bom/sangue ruim”, na teoria comum do século passado que diz que se você é de família “respeitável”, você é automaticamente bom, e se seu pai é ladrão, você é automaticamente mau;  descreve todas as mulheres que liberadas sexualmente como vadias sem moral que só querem saber de roubar o marido das outras); e em geral é cheia dos preconceitos típicos de uma mulher de classe média alta branca inglesa de “boa família”. Por favor não seja babaca de achar que ela tá certa. E nem deixe de ler e gostar do livro por causa das ideias retrógradas dela. Tá? Então tá.

O final perfeito faz tudo isso ser deixado de lado, em uma das reviravoltas mais simples e ao mesmo tempo mais geniais da história do gênero. No fim das contas o livro contém todos os elementos que te fazer não querer largar a história nem por um milagre, personagens interessantes e uma investigação sem maiores sanguinolências nem crimes hediondos, com inclusive com pouca participação de policiais ou detetives, mas nem por isso menos emocionante.

Recomendadíssimo!

The Franchise Affair (1948) De Josephine Tey 

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