Esse foi o primeiro livro de Nero Wolfe que li na vida. E se querem saber meu conselho esse é um dos que deve ser lido primeiro por qualquer um que queira conhecer o detetive obeso, misógino, gênio e preguiçoso que só trabalha quando o dinheiro acaba.
Claro que falando assim ninguém vai querer conhecê-lo. De fato, ele é bem chato. A graça toda dos livros é o narrador: o bonitão, mulherengo, hiperativo, sarcástico e inteligente Archie Goodwin, assistente de Wolfe.
Nesse livro Archie finalmente consegue fazer com que Wolfe decida trabalhar ao mostrar ao seu chefe a situação precária em que se encontram as finanças da casa após o pagamento do imposto de renda. Wolfe então decide se intrometer no caso mais sensacional nos jornais: durante o famoso programa de rádio de Madeline Fraser, um dos convidados bebeu um gole de Hi-Spot/Starlite (o nome do refrigerante varia dependendo da edição do livro), bebida que patrocina o programa, e morreu envenenado por cianureto.
Há quase dez dias que o crime ocorreu e a polícia não chegou a lugar algum. Wolfe propõe à equipe do programa que eles o contratem para pegar o assassino e coloquem essa informação no jornal, para apaziguar os ânimos públicos dizendo que o pessoal do rádio está fazendo alguma coisa.
Só que logo que começa a investigação, Wolfe percebe o motivo que fez a polícia demorar tanto para progredir: todos os envolvidos estão tentando esconder um segredo terrível que pode acabar não só com o programa, mas até com a própria emissora de rádio!
O que eu mais gostei nesse livro foi a dinâmica entre Wolfe e a polícia. Cramer, o inspetor de polícia, que tem uma relação de amor e ódio com Wolfe, estão tão desesperado por alguma luz no caso que eles quase chegam a cooperar.
O elenco do rádio também é muito bom, desde Nancylee, uma garota que é presidente do maior fã clube de Madeline Fraser no país e que fica perambulando pelos bastidores se intrometendo em tudo, até o professor Savarese, inadvertidamente colocado na situação de participante por ter sido selecionado para ser o segundo palestrante no dia do crime.
Outra coisa bastante importante para aqueles que seguem a carreira de Wolfe com interesse é que esse é o primeiro livro em que Arnold Zeck (o Moriarty de Wolfe) aparece. Apesar de ser parte importante da trama, Zeck não chega a ser o centro das atenções, e isso ajuda a história fluir.
Em geral, é sim um dos melhores livros da série, tanto pela trama em si – e pelo assassinato, que é um dos mais criativos que eu já vi – que envolve toda a questão de patrocinadores, mídia e audiência, algo que não perdeu a atualidade, quanto pelo final inteligente. Mas como sempre o que se destaca é a narrativa de Archie, que contém as melhores descrições de eventos que eu verei na vida.
Para quem gosta de um bom policial, não perca esse excelente espécime do gênero!
And Be A Villain (1948) de Rex Stout. Coleção Nero Wolfe Nº 13