Maio 19, 2024
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Eu geralmente não gosto do Poirot, ele é sempre tão prepotente, pedante e chato que em geral não vale a pena gastar o tempo com ele mesmo quando a história é legal.
Mas em alguns livros, como nesse, e no dos Elefantes, e no dos Porquinhos etc, dá pra engolir e a trama é tão gostosa que a gente esquece que o Poirot é chato. No Pudim de Natal ele fica inclusive bem legal!
Mas se tem uma pessoa que eu não suporto mesmo é o Hastings.
Além de ele ser burro, preconceituoso, tradicionalista e sem senso de humor, ele é uma cópia tão descarada do Watson (que já era muito disso pra começar) que irrita além das minhas capacidades de leitura.
Se o livro tem o Hastings, eu nem me dou ao trabalho de ler.
Mas a premissa desse era tão interessante que eu acabei lendo, e me apaixonei por um personagem: a morta.
Porque o resto das pessoas no livro é tão clichê (até pra gata) que fica sem graça: tem o sobrinho mau caráter e charmoso, a sobrinha modernosa que tem um segredo, a sobrinha sem graça que é dedicada ao marido, a dama de companhia boboca e crédula, as vizinhas espíritas que não gostam muito do ceticismo da dona da casa, o médico da aldeia que não acredita em remédios modernos.
E a morta. A Senhorita Emily Arundell, solteirona e última sobrevivente da família. Que sabe muito bem que todos os parentes estão em volta dela esperando que ela morra pra ficar com o dinheiro. Que despreza a nova geração e considera seu falecido pai um pilar de cavalheirismo e dignidade, mesmo que ele tivesse ‘um problema’ com a bebida.
Uma mulher vitoriana até as raízes do ser, que acredita no poder familiar acima de tudo, despreza estrangeiros e só convive com gente ‘de bem’.
É uma personagem tão bem construída, e tão parecida com a minha tia-avó, que dá gosto de ler. É impressionante como, de repente, em um dos trilhões de livros que a gata escreveu, aparece um personagem que cria vida na nossa frente. Sem clichês, porque provavelmente a autora se inspirou em alguém mais do que real pra criar essa personagem.
Na verdade, se eu não soubesse que vários anos e muitos quilômetros separaram minha tia-avó da gata, eu acharia que esta tinha se inspirado naquela pra criar a senhorita Arundell.
A história é que Poirot recebe uma carta da senhorita Arundell, que está visívelmente preocupada com alguma coisa. A carta, porém, tem a data alguns meses antes, e quando Poirot vai até a aldeia onde ela mora ver com seus próprios olhos o que ocorreu para a demora do envio da carta, descobre que a senhora morreu de uma doença estomacal há alguns meses. Apenas duas semanas depois de ter escrito a carta e tê-la esquecido numa gaveta da escrivaninha.
Acontece que logo Poirot descobre algumas coisas: a morta deixou tudo para uma dama de companhia bem trouxa que só estava com ela há um ano. Os sobrinhos da senhora tinham ido visitá-la
(para pedir dinheiro) no fim de semana anterior à sua morte. E duas semanas antes, ela havia caído da escada, aparentemente tendo tropeçado na bola com a qual o cachorrinho da casa costumava bricar, e escapou por um triz de ter quebrado o pescoço. Mas no dia seguinte ouviu o cachorro latindo do lado de fora, onde havia passado a noite, e lembrou-se muito claramente de ter guardado a bola do cão na gaveta da cômoda. Antes da queda.
Daí pra frente são as reconstituições de Poirot, sua irritação consigo mesmo por ter ‘demorado muito’ na resolução do problema, e a reviravolta no final.
Ou seja, nada de muito novo.

 

Mas Miss Arundell faz toda a diferença.

Dumb Witness (1937)
De Agatha Christie (Reino Unido)

8 thoughts on “Poirot Perde Uma Cliente | Agatha Christie

  1. Ah, não… adooooro todos os livros da “gata”, hehehe. Adoro o Poirot exatamente pelos motivos que você não gosta dele, adoro a falta de humor do hastings e adoro os clichês, TODOS.Esse livro é um dos que eu menos gosto, na verdade… prefiro A Caso do Penhasco, dez negrinhos, etc…Besos

  2. Fala sério…….quem é que não gosta do poirot? É o melhor personagem da agatha christie! Percebi que você se atem á monotonia e a “inrolação” do livro! Se quiser isso, leia um livro de romance, que é melhor que você ficar perdendo tempo falando mal de Hercule poirot!

  3. Oi, Claudio. Ofendeu não, fica tranquilo. Você tem todo direito de gostar do Poirot, assim como eu tenho o direito de não gostar dele. Eu que não vou ficar perdendo tempo te explicando tudo que está errado no seu comentário (tanto em questões de Português quanto em questão de educação). Prefiro perder meu tempo falando mal do Hercule Poirot! 😉

  4. Adoro os livros da Agatha,ja li quase todos e posso dizer que alguns o final deixam um pouco a deseja,mais nao me arrependo a leitura e otima e meu personagem favorito e Hercule poirot.desde ja agradeço.

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