Setembro 20, 2024
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O ano é 1928, a cidade é Melbourne e Miss Fisher é a mulher que chegou da Europa pra causar: com pouca paciência pra gente burra e intolerante, completamente entediada com a vida de menina rica que ela levava na Inglaterra e bastante interessada nos jovens australianos bem apessoados, Miss Fisher não tem a menor intenção de ser socialmente correta e usa seu título de Honorável (um título de cortesia britânico usado com cônjuges e filhos de pares do reino) para conseguir o que quer.

Seu primeiro caso na Austrália é o da socialite Lydia Andrews, cujos pais pedem que Miss Fisher investigue, já que ela parece estar sendo envenenada aos poucos pelo marido violento.

Logo ficamos conhecendo o grupo de ajudantes da honorável detetive: Cec e Bert, taxistas comunistas que conhecem bem o submundo de Melbourne, e Dot, uma jovem empregada que foi abusada pelo filho da patroa e depois demitida por tê-lo seduzido (Phryne humilha o jovem na frente de todos e com isso consegue a lealdade eterna de Dot).

Enquanto tenta se aproximar de Mrs. Andrews, Prhyne conhece um trio de russos fugidos da revolução (incluindo Sasha, um jovem dançarino que é realmente muito agradável) que pedem que ela resolva também o problema do crescente tráfico de cocaína na cidade; a detetive também trabalha para desmantelar a prática de um abortista clandestino.

Então vamos primeiro aos problemas: um, que o livro tem tramas demais. Ela tem que resolver o drama da esposa envenenada, o drama do tráfico de drogas, e o drama do médico açougueiro. As coisas acontecem bem rápido e nem sempre as resoluções são satisfatórias. Dois, que Miss Fisher poderia ser uma feminista hoje e fica um pouco estranho ela ser tão liberal tantos anos atrás – mas também tem o fato de que demos tantos passos pra trás hoje em dia e eram tantos os progressos na década de 20 que talvez fosse possível mesmo uma cabeça aberta que nem ela. Ela é a única, de qualquer forma, que pensa desse jeito no livro, e sobra pra ela ter que lidar com os preconceituosos estúpidos à sua volta. Parece um pouco com Mistress of the Art of Death, onde todo mundo em volta da protagonista tem cabeça da época menos ela, mas como o livro se passa numa época mais próxima de hoje em dia isso não é um problema tão grande. É certamente refrescante ler as ideias dela.

E agora às vantagens: a trama é interessante, os mistérios são bem construídos, os personagens são incríveis e a ambientação (especialmente histórica) é excelente. Não vi motivos nessa área para não querer acompanhar a série até o fim dos tempos (que eu saiba, foram vinte livros).

Mas vamos lá ao motivo principal de eu ter me apaixonado por Phryne: ela dá pra vários! Ela não tem o menor interesse em se casar, mas não é por isso que ela vai deixar os homens de lado. Sempre tem um bonitinho que ela consegue levar pro quarto, e (pelo menos nesse livro) é um esquema bastante tranquilo e casual, que funciona especialmente bem por ela ser tão rica. Gostou do jovem, ele frequenta sua cama. Cansou dele, bora procurar outro.

Coincidentemente vários desses jovens estão envolvidos em casos que ela está trabalhando, e porque ela recusaria longas *conversas* sobre temas que podem se revelar interessantes para resolver crimes?

Eu adorei que ela tem a sexualidade dela tranquila e não é traumatizada, nem anti-heroína, nem ninguém tenta explicar seus motivos. Ela gosta dos seus young men e não está nem aí com a opinião alheia, curte um homem forte e um café preto como antídotos para problemas. Refrescante, pra dizer o mínimo. Qual foi a última vez que vocês leram uma protagonista que troca de amantes como troca de roupas e não é julgada pela trama nem pelo autor?

Um  livro divertido, empolgante, com romance policial e história de época (gente, ela dança CHARLESTON) e moralmente alinhado aos meus princípios: QUERO. Foi excelente ter encontrado essa nova série e recomendo a leitura pra todo mundo!

Cocaine Blues (1989) de Kerry Greenwood. Miss Fisher Murder Mysteries Livro 1

Leia também minha resenha do livro 2.

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