Maio 19, 2024
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Nesse primeiro livro da série, ficamos conhecendo a fascinante rotina de um exército de mercenários a serviço da feiticeira maligna que quer dominar o mundo.

A Dama, senhora da escuridão e do desespero, está de volta após um sono de centenas de anos. Seus servos são os Tomados, magos criadores de horror e destruição que tiveram suas almas corrompidas e se transformaram em verdadeiros monstros. O objetivo dela: conquistar o mundo, transformando todos os reinos livres em partes do seu domínio.

Para isso, ela conta não só com inúmeros exércitos e seus feiticeiros horrorosos, como também com os serviços da Companhia Negra – um grupo de mercenários que tem como regra principal honrar seus contratos. Narrado por Chagas, o médico e crônico da Companhia, o livro segue a campanha da Companhia Negra desde logo antes de serem contratados pelo Apanhador de Almas (um dos Tomados menos terríveis) até a batalha final nos portões da fortaleza da Dama, pela honra e pela liberdade – em que a Companhia luta do lado das forças do mal.

Com essa premissa extremamente interessante de mostrar a história do lado dos maus, o livro ganha uma força que o colocou entre os precursores da ‘dark fantasy’. Os soldados da Companhia não são exatamente malignos, são apenas mercenários que lutam em guerras infindáveis e por isso se importam pouco com qualquer coisa que não seja: quando vamos parar para descansar e quem ganhou mais dinheiro no jogo de cartas. Se por um lado isso deixa todo mundo com uma personalidade fria, por outro deixa a narrativa com realismo cético surpreendente; afinal, são dezenas de anos matando, pilhando, torturando e colocando fogo em tudo, não dá pra esperar que sejam homens com coração leve e sonhos esperançosos.  O narrador se infiltra em uma sessão de tortura dos aliados do Círculo (grupo de feiticeiros ‘do bem’ que tem como missão acabar com a Dama e seus Tomados) e comenta que as técnicas deles não eram diferentes das usadas pelos ‘do mal’, e a mensagem é clara: não existe lado bom numa guerra, só depende do seu ponto de vista.

Pontos que podem ser negativos na verdade enganam. Os personagens são rasos, sem graça e mal descritos. As batalhas quase não aparecem. A violência é tratada com naturalidade. E tudo isso faz sentido: os personagens são mal descritos porque são os amigos do narrador, e ninguém precisa descrever amigos! As batalhas não aparecem porque, para o narrador, são todas tão parecidas que se confundem na memória dele, e o que importa é quem sobreviveu. A violência é tratada com naturalidade porque para eles todos ela virou natural. O passado do autor como fuzileiro naval e o fato de que o livro é um favorito entre ex-militares mostra que de alguma forma ele acertou a mão com essa forma de escrever. Apesar dos personagens serem em geral sem muita graça, os poucos que aparecem melhor são memoráveis e fiquei curiosa para saber o futuro deles.

Mas infelizmente não é uma leitura fácil: Com cerca de 300 páginas, a tradução primorosa em português conseguiu melhorar o texto original, que é confuso, cheio de termos chulos, apelidos sem sentido e frases de efeito inventadas. Glen Cook tem um estilo complicado de gostar e deixou as coisas mais chatas aqui com essa mania de pular duas linhas do livro e dois meses na narrativa. O narrador Chagas está escrevendo as memórias dele e não parece se importar que alguém vá ler, pula de um lado pro outro da história e não explica nada do que está acontecendo: são batalhas de meses resumidas em duas linhas, violências horríveis que viram “ela seria bonita se não tivesse sido tão abusada” e apenas uma ou duas cenas de ação que são de fato organizadas pelo narrador – mas é tudo tão confuso que não dá pra saber o que está acontecendo. Quase pensei em reler algumas partes para conseguir me achar, mas no fim das contas fiquei com a impressão de que não importava muito – e eu estava certa. A trama parece que vai para os lugares mas na realidade não vai pra lugar nenhum, e só nas últimas trinta páginas que vemos alguma coisa acontecer. Eu sei que é o primeiro livro de uma série, mas mesmo assim: o plot twist na realidade é TODO O PLOT, e se não fosse um livro tão rápido de ler, eu teria desistido no meio.

Se você se interessa em ler um dos pioneiros da dark fantasy, se interessa por vida no exército e se contenta com pinceladas sobre o mundo e está disposto a descobrir mais sobre o universo nos próximos livros da saga, eu super recomendo esse livro: com uma dose de narrativa sombria que conseguiu não me fazer largar o livro (e eu sou nojenta com essas coisas de violência), uma ideia original bem executada e uma narrativa que, por mais que tenha uma trama pouco movimentada, é rápida de ler, esse foi um livro que me deixou entretida e interessada na história. E pode até ser que eu leia os próximos 🙂

The Black Company (1984) de Glen Cook. Série The Chronicles of the Black Company Livro 1

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