Aqueles que já conhecem o detetive mulherengo Archie Goodwin nunca o viram tão à vontade quanto nessa história.
Ao ajudar seu chefe, o gordo e genial detetive Nero Wolfe, a resolver um assunto de prioridade na empresa Naylor-Kerr, Archie se vê no paraíso: uma imensa sala cheia de estenógrafas. Ele mesmo diz que são mulheres de todos os tipos, mas a impressão geral que se tinha era o suficiente para que ele desejasse todos os dias poder pedir demissão e passar a trabalhar ali.
Não que fosse um local dos mais agradáveis: um dos funcionários havia morrido por atropelamento e outro funcionário, cunhado do chefão, começou a dizer que o atropelamento na verdade havia sido assassinato. A fofoca – que já ocorre normalmente nas empresas e naquela era de um nível espetacular – deixou as coisas num ponto quente demais para que os diretores e o presidente pudessem ficar à vontade.
Então Archie passa a fazer parte da folha de pagamento da Naylor-Kerr para investigar se o tal moço morreu de acidente ou se foi assassinato mesmo. É claro que a polícia, representada pelo esquentadíssimo Inspetor Cramer, fica em polvorosa quando descobre que o famoso Nero Wolfe está remexendo num caso que já foi fechado como tendo sido morte acidental por atropelamento – o carro, roubado, havia sido encontrado a algumas ruas de distância do corpo.
Para conseguir a resposta que o presidente da empresa deseja, Archie terá que conversar com várias garotas (é claro que ele sempre escolhe as mais atraentes) e separar o joio do trigo no monte de fofocas em que ele se encontra enterrado.
Mas é quando outra morte acontece que as coisas começam a ficar divertidas.
Esse é um dos meus livros favoritos da dupla Wolfe-Archie, até porque adoro o jeito meio noir/meio Don Juan que a narrativa em primeira pessoa de Archie empresta à trama. Achei os personagens bem desenvolvidos – para esse tipo de livro – e a trama divertida pela situação insólita de ver Archie, o perfeito conquistador, numa sala com mais de trezentas mulheres bonitas.
Além disso, como era de se esperar numa empresa como essa, o número de casais e triângulos amorosos e tensões românticas é suficiente para que até mesmo Nero Wolfe não saiba por onde começar a procurar um motivo, e ver Nero Wolfe sem saber o que fazer é sempre interessante.
Ao contrário de muitos dos finais que o autor dá às suas tramas, o final desse livro não me deixou com cara de “até parece” e só deixou o livro melhor.
Mas a melhor parte desse livro, a melhor mesmo, é que tem tradução no Brasil. Se vocês acharem, vale a pena.
Too Many Women (1947)