Arrimã, O Grande Mago do Norte, vai se casar. Ele está cansado de ser o responsável pela magia negra, pela destruição e pelo desespero, então ele precisa de uma esposa e como consequência um filho para que ele possa ter um substituto e portanto se aposentar.
Como ele nasceu em Toca-da-Raposa, ele resolve escolher uma bruxa daquela localidade.
O Sr. Guiamelhor, seu secretário, é secretamente apaixonado pelos concursos de Miss Universo, então cria uma espécie de concurso de bruxas, onde a responsável pelo feitiço mais maligno se casará com Arrimã.
Beladona é uma bela bruxa esbelta e loira que teve a infelicidade de ter nascido uma Feiticeira Branca. Os animaizinhos a seguem por toda parte, ela tem perfume de rosas e jasmim, e por mais que ela se esforce, só consegue fazer magias de cura e felicidade.
Ela se sente muito deprimida por não ter uma chance com Arrimã, a quem ela secretamente admira muito. É só quando ela conhece Pirata, a minhoca de estimação do garoto órfão Terrence, que ela parece ter uma capacidade inédita para a magia negra.
As outras bruxas de Toca da Raposa podem não estar apaixonadas por Arrimã, mas nem por isso deixam de se preparar para o evento.
Há Mabel Naufrágio, que é meio sereia. Sua mãe, no entanto, não era bem o tipo de seria das lendas, e, nas palavras da autora “se parecia muito com um ônibus de costas”. Mabel anda com um broche de lesma de plástico e seu polvo de estimação num balde.
Há também as Gêmeas Gritador, altas, fumantes e histéricas, que vivem brigando para ver qual galinha é a familiar de qual.
Mãe Sanguinária tem mais de noventa anos e anda com uma lata de vermes que se transformam em moscas – poderosas agentes de magia negra.
Esther Forragem tem um porco de estimação e anda com botas de caubói cheias de esterco na sola.
Enquanto Beladona e Terrence tentam pensar na magia mais negra possível para que ela ganhe a competição, e Arrimã dá uma olhada na situação das bruxas de Toca da Raposa e pensa seriamente no suicídio, uma nova competidora aparece. Madame Olímpia, uma bela feiticeira maligna que está muito mais interessada no dinheiro e poder de Arrimã do que no próprio mago, certamente será uma excelente competidora que poderá por tudo a perder.
Gente, a primeira coisa que precisa ser dita sobre Eva Ibbotson é que ela escreve bem DEMAIS. Ela cria atmosferas como ninguém, personagens que você quer abraçar depois da primeira linha e ainda por cima ela é MUITO ENGRAÇADA. Querem ver?
“Lester era um ogro; um homem imenso, de movimentos vagarosos, com músculos do tamanho de bolas de futebol. Como a maior parte dos ogros, tinha só um olho no meio da testa, mas, para não aborrecer as pessoas, costumava usar um tapa-olho preto – assim, pensavam que tinha dois olhos. Antes de vir a ser criado de Arrimã, Lester engolia espadas em uma feira e ainda gostava de tragar um sabre ou florete que não estivesse fazendo falta. Aquilo o acalmava.” pp. 9-10
ou então:
“Quem vivia na banheira da srta. Naufrágio era, é claro, da família. A família são os animais que ajudam as bruxas na magia, e são muitíssimo importantes. O da srta. Naufrágio era um polvo: um animal grande, com tentáculos pálidos, ventosas que deixavam anéis de sangue onde passavam e olhos vermelhos maus. Era um polvo menina, e seu nome era Dóris.” p. 17
E por aí vai. A cada momento em que Lester está estressado ou chateado, logo a autora nos lembra do seu tradicional calmante, dizendo que “ele olhou para o guarda-chuva do gerente do hotel, mas desistiu de engoli-lo pois podia abrir dentro dele e seria desagradável” ou algo assim. O resultado é um livro engraçadíssimo e inteligente, que é de deixar qualquer um apaixonado pela autora.
A história também é o máximo. Temos um mago terrível que se cansou de ter que ser responsável por todo o terror do país. E temos uma bruxa meiga e gentil que quer ser a mais terrível do mundo. Coitada!
“Se dependesse da sua vontade, Beladona queria negrume – destruir, explodir, estragar e murchar lhe pareciam as coisas mais maravilhosas do mundo. Mas, embora fosse capaz de curar pessoas, fazer feitiços para que flores brotassem da terra e falar a língua dos animais, o menor traço de mal, como, por exemplo, virar um pepino verde claro em pudim preto gorduroso, estava além do seu alcance. Não que não tentasse.” p. 23
Ignorem o preconceito que possam ter com livros infantis – ou leiam para seus filhos, netos, sobrinhos, irmãos, não importa – e por favor, façam uma coisa boa na vida de vocês e peguem Eva Ibbotson pra ler. Esse é o meu livro favorito dela, mas ela escreveu vários e são todos bons.
Which Witch? (1979)
de Eva Ibbotson (Reino Unido)