Dezembro 3, 2024
Home » Peter Pan | J.M. Barrie
peter-pan_a-devoradora-de-livros

Nossa, como é difícil falar sobre o meu livro favorito!
Mas demorou, né, então vamos.

A história, para os que são de Marte e nunca ouviram falar, é do garoto que quer ficar criança pra sempre e dos três irmãos ingleses que vão com ele viver grandes aventuras na Terra do Nunca, com direito a luta com piratas malvados, brincadeiras com as sereias e a guerra de faz de conta contra os índios.

O livro sofreu diversas adaptações para o cinema, das quais falo com mais calma depois; menciono-as porque foram importantes para criar a imagem do que é Peter Pan na cabeça das pessoas.
E é claro que é uma imagem errada.

O livro é a versão romanceada da peça de teatro escrita pelo mesmo autor e que estreou em 1904. James Barrie transformou a peça em livro e publicou a história em 1911, tendo adicionado cenas e situações ao livro até a década de 20. Em 1928 o autor parou de fazer alterações na história e doou os direitos do livro a um hospital para crianças.
O livro que acompanhou minha infância é a versão de 1911 que inclui o problemático An Afterthought, uma cena que Barrie adicionou à peça e que alguns diretores escolheram não usar (a última versão cinematográfica de Peter Pan, de 2002, não inclui essa cena final, enquanto Hook, a versão de Spielberg, usa essa cena como base para todo o roteiro).

Apesar de ter sido escrito para crianças, o livro tem elementos que são mais complexos e que só poderão ser compreendidos numa outra leitura, com o amadurecimento do leitor.
A criança logicamente vai se divertir com as aventuras do garoto que não quer crescer – e que criança nunca pensou nisso? Mas o livro vai se revelando mais complicado, mais sutil e mais interessante conforme os elementos chave são compreendidos.

Peter Pan não quer crescer e foge com as fadas para a Terra do Nunca, mas sente falta de uma mãe (ele usa a desculpa de que ele não tem criatividade para inventar histórias-de-antes-de-dormir) e costuma espiar a Sra. Darling lendo contos-de-fadas para seus filhos dormirem.
A cena em que Peter e Wendy, a filha mais velha, se encontram é de conhecimento de todos: a sombra de Peter se descola de seus pés num acidente com a janela e a Sra. Darling dobra a sombra e a guarda na gaveta da cômoda. O Sr. e a Sra. Darling saem para um jantar de gala e deixam a cadela-babá Naná presa no jardim após uma discussão sobre o tipo de babá correto para os filhos de uma família emergente (e uma confusão com o remédio do Sr. Darling).
Peter vem resgatar sua sombra e quando não consegue colá-la aos seus pés usando sabão, senta no chão e começa a chorar, fazendo com que Wendy acorde.

Quando ele descobre que Wendy sabe todas as histórias de cor, não hesita em chamá-la para ir com ele à Terra do Nunca para ser a mãe dele e de todos os meninos perdidos (bebês que caem dos berços e são levados pelas fadas). Ela se empolga e pergunta se eles podem levar seus irmãos também, e Peter acaba deixando João e Miguel irem porque não sabe como recusá-la.
O pó de pirlimpimpim é jogado sobre as cabeças dos novatos, eles são instruídos a terem um pensamento alegre (“think of the happiest thing, it’s the same as having wings”) e lá se vão eles voando em direção à terra encantada, virando segunda estrela à direita e direto até o amanhecer.

Os piratas, liderados pelo temível Capitão Gancho (que, junto com Sininho, é o meu personagem favorito), atacam os recém chegados; Wendy sofre um atentado; os meninos perdidos recebem os três irmãos com alegria – euforia, no caso de Wendy, que ganha uma casa – e passam a viver várias aventuras.

O livro não é apenas uma história de fantasia de primeiríssima qualidade – é também uma obra prima onde cada personagem tem seu lugar e suas características descritas de forma simples e inconfundível. Nada é o que parece à primeira vista, e a visão do autor sobre a época e sobre os temas abordados – casamento, maternidade, amadurecimento e “propriedade” (no sentido de propriety – aquilo que é adequado) – permeia a narrativa de forma genial.
O leitor mal percebe, a princípio, mas existe uma constante conversa entre o narrador e o leitor, e quando você menos espera está completamente à mercê da idéia de que há alguém contando essa história para você dormir.

Esse livro é um que deve ser lido por todas as crianças e todos os adultos. É divertido, comovente, inteligente, lindo… é tudo o que um livro infantil deve ser e mais um pouco. Se você acha que já conhece a história de Peter Pan por ter visto algum filme – o da Disney, por exemplo – faça um favor a si mesmo e leia o livro. Cada leitura revelará mais um detalhe da história, que é muito mais bonita do que aparenta ser.
Uma obra prima que é obrigatória em qualquer estante, Peter Pan vai ser pra sempre meu livro favorito no mundo inteiro.

Peter Pan (1904)

7 thoughts on “Peter Pan | J.M. Barrie

  1. Oie!Lindo o blog, primeira vez aqui ^^Ah, sério que Peter Pan é seu livro preferido?? Eu gosto muito do filme e daquela versão que eles fizeram que agora eu não consigo lembrar o nome… Mas bem, talvez eu leia algum dia!Minha coleção preferida de livros é Percy Jackson, não sei se você já ouviu falar.Bjs,Ariane;)

  2. Adoro Hook – A volta do Capitão Gancho. Um dos fimes preferidos da minha infância. Outro dia peguei pra ver com “olhos de adulto” e gostei ainda mais. Uma delícia!Na última versão live-action de Peter Pan, eles colocaram o ator que faz o pai da Wendy também interpretando o Capitão Gancho. Lembro que na época a imprensa pegou do pé pq no filme a Wendy tinha uma certa admiração pelo Gancho, e aí ficaram dizendo que a escalação do mesmo ator para os dois papéis era para mostrar uma espécie de Complexo de Édipo na relação dos dois. Você encontrou algum indício disso na sua leitura?AbsLisa

  3. Oi, Ariane! Obrigada pelo comentário! Eu conheço Percy Jackson sim, mas só li o primeiro volume. Gostei bastante. Inclusive fiz uma resenha dele no blog.Oi, Lisa! Obrigada pelo comentário!Então, eu não vi nenhum indício de complexo de Édipo na minha leitura… mas eu ouvi falar que o autor recomendava que, na peça, fosse o mesmo autor intepretando os dois papéis e que o filme quis reproduzir essa recomendação. Vai saber o que se passava pela cabeça do Barrie. Ele era meio louquinho, viu? Nada do romantismo do filme do Johnny Depp. rsBeijos!

  4. Oii… adorei a resenha!!estou looouca pra ler este livro!! queria te fazer algumas perguntinhas… qual é a cena “An Afterthought” que você falou que é polemica?Outra coisa, essas perguntas são mais para eu ter informações como referencia para comprar a minha versão… quantas paginas tem o seu livro? a capa dele é tipo essa da foto mesmo?? qual editora?? é em português ou inglês?Obrigada!!Beijoss

  5. Oi Verônica!Obrigada pelo comentário, e desculpe a demora em responder… Fiquei um pouco fora do blog nesses últimos tempos.Então, a versão que eu tenho é uma beeem velha, com capa verde. Eu acho que é a “versão anterior” à que eu usei para ilustrar o post, porque também é com a tradução da Ana Maria Machado e eu acho que é a mesma editoraEu acho que o livro que você colocou é a história completa sim, mas pra saber se tem o capítulo “An Afterthought”, só olhando.CONTÉM SPOILERSEssa cena final é quando o Peter vem buscar a Wendy pra ir pra Terra do Nunca de novo, e como ele é esquecido e distraído, ficou tempo demais sem aparecer e ela já cresceu, e casou, e teve uma filha. E ele acaba convidando a filha pra ir com ele pra Terra do Nunca. Apesar não parecer, não é um final dos mais felizes… Mas também é a cara do autor. Espero que você consiga achar a versão que quer!Beijos,

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *