Maio 19, 2024
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A primeira coisa a se notar nesse livro é o número de recomendações de gente foda que tem na contra capa. Eu geralmente não gosto desse tipo de coisa, já que na maior parte são partes de resenhas tiradas do contexto ou são opiniões de gente meio dispensável. Mas dessa vez o que me impressionou foi o nível das pessoas que elogiavam o livro – Ursula Le Guin, Orson Scott Card, Robin Hobb, Terry Brooks e outros desse cacife.

Na verdade só a palavra de Ursula Le Guin sobre qualquer livro me faz querer lê-lo.

Então eu fui lá e li.
E olha, o povo tem razão, viu?

A história segue duas ambientações principais.
Na primeira temos Kote, um pacato dono de taberna numa cidadezinha de fim de mundo, seu ajudante Bast e um senhor já de idade que diz ser The Chronicler, um coletor de histórias memoráveis que viaja o mundo procurando pelas histórias verdadeiras da vida das pessoas.
Logo descobrimos que Kote não é apenas um taberneiro – ele é Kvothe, o maior herói das histórias. É só depois de alguns capítulos que vemos o Chronicler convencer Kvothe a contar sua história.

Nas segunda ambientação temos, portanto, a história de Kvothe, o “matador de reis”, um herói que fez coisas ainda piores e mais memoráveis do que as histórias contam, da forma como ele a narrou em sua taberna durante três dias ao Chronicler.

A história clássica da trajetória do herói é contada em primeira pessoa com uma qualidade de emoções que nunca deixa o livro sem graça. Os personagens são tão reais que podemos vê-los na nossa frente durante a leitura do livro. As aventuras por que Kvothe passa são de tirar o fôlego – ou, no meu caso, de querer largar o livro e dar uma volta pra estar mais tranquila caso tudo não dê certo.
E o melhor?
A personalidade de Kvothe. Ele é sério, mas sarcástico, mas tem senso de humor, mas se acha, mas toma na cabeça, mas não entende nada e depois entende tudo. Ele se apaixona, mas é um idiota, e depois salva as pessoas, mas depois estraga tudo, e fica se culpando pelo que aconteceu, mas depois tem sede de vingança.
Um dos melhores personagens/protagonistas ever.

E então temos a magia. E a música. Em uma das melhores descrições e inserções da magia no mundo fantástico desde O Mago de Terramar, o livro nunca deixa a peteca cair: a magia faz parte daquele mundo, mexer com ela não é fácil e não é qualquer um que faz, exige anos suados de prática e nem sempre resolve os problemas. A música, por outro lado, é um caso à parte. O mundo estava precisando de um bardo competente, com a música que pode fazer rir ou chorar, com a habilidade de contar uma boa história.

Já cheguei a ler críticas de pessoas que não gostaram tanto assim do livro, por acharem que ele se demorava em detalhes pouco importantes, deixando o personagem banal; também que alguns eventos acontecem de forma coincidental de mais, deixando o livro muito clichê.
De forma alguma retruco que esse livro é perfeito. Eu apenas não saí de seu feitiço por tempo suficiente para encontrar os defeitos e falar sobre eles.
O que me encantou foi justamente a óbvia necessidade de Kvothe de se demorar em algumas passagens e falar de outras rapidamente: faz sentido porque é uma história narrada em primeira pessoa, pelo herói em si. E não tive a impressão de ser uma história contada por um velho ao final de sua vida: Kvothe, no momento da narrativa, ainda é relativamente jovem, e não chega a ser um velho sábio – a todo momento eu me perguntava se Kvothe ainda viverá mais aventuras depois de terminar seu conto.
Gosto de livros que entregam pouco durante a narrativa; que fazem com que o leitor descubra aos poucos as qualidades e histórias dos personagens – gosto de voltar ao começo do livro quando já estou chegando ao final, para rever minhas impressões sobre o que aconteceu.

The Name of the Wind (2009)

2 thoughts on “O Nome do Vento | Patrick Rothfuss

  1. Eu amo esse livro!!! Tô que não me aguento de desejo pelo segundo volume. Logo, logo a editora Arqueiro irá publicar.Menina…tbm não tive tempo de encontrar defeitos, não. Inclusive, fiquei encantada com o prólogo e o epílogo do livro, que descrevem o silêncio que rodeia a pessoa de Kote – “um silêncio em três partes”- o som paciente do homem que espera a morte. Parece poesia…lindo!Adorei sua resenha.Bjs

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