Na verdade só a palavra de Ursula Le Guin sobre qualquer livro me faz querer lê-lo.
Então eu fui lá e li.
E olha, o povo tem razão, viu?
A história segue duas ambientações principais.
Na primeira temos Kote, um pacato dono de taberna numa cidadezinha de fim de mundo, seu ajudante Bast e um senhor já de idade que diz ser The Chronicler, um coletor de histórias memoráveis que viaja o mundo procurando pelas histórias verdadeiras da vida das pessoas.
Logo descobrimos que Kote não é apenas um taberneiro – ele é Kvothe, o maior herói das histórias. É só depois de alguns capítulos que vemos o Chronicler convencer Kvothe a contar sua história.
Nas segunda ambientação temos, portanto, a história de Kvothe, o “matador de reis”, um herói que fez coisas ainda piores e mais memoráveis do que as histórias contam, da forma como ele a narrou em sua taberna durante três dias ao Chronicler.
A história clássica da trajetória do herói é contada em primeira pessoa com uma qualidade de emoções que nunca deixa o livro sem graça. Os personagens são tão reais que podemos vê-los na nossa frente durante a leitura do livro. As aventuras por que Kvothe passa são de tirar o fôlego – ou, no meu caso, de querer largar o livro e dar uma volta pra estar mais tranquila caso tudo não dê certo.
E o melhor?
A personalidade de Kvothe. Ele é sério, mas sarcástico, mas tem senso de humor, mas se acha, mas toma na cabeça, mas não entende nada e depois entende tudo. Ele se apaixona, mas é um idiota, e depois salva as pessoas, mas depois estraga tudo, e fica se culpando pelo que aconteceu, mas depois tem sede de vingança.
Um dos melhores personagens/protagonistas ever.
E então temos a magia. E a música. Em uma das melhores descrições e inserções da magia no mundo fantástico desde O Mago de Terramar, o livro nunca deixa a peteca cair: a magia faz parte daquele mundo, mexer com ela não é fácil e não é qualquer um que faz, exige anos suados de prática e nem sempre resolve os problemas. A música, por outro lado, é um caso à parte. O mundo estava precisando de um bardo competente, com a música que pode fazer rir ou chorar, com a habilidade de contar uma boa história.
Já cheguei a ler críticas de pessoas que não gostaram tanto assim do livro, por acharem que ele se demorava em detalhes pouco importantes, deixando o personagem banal; também que alguns eventos acontecem de forma coincidental de mais, deixando o livro muito clichê.
De forma alguma retruco que esse livro é perfeito. Eu apenas não saí de seu feitiço por tempo suficiente para encontrar os defeitos e falar sobre eles.
O que me encantou foi justamente a óbvia necessidade de Kvothe de se demorar em algumas passagens e falar de outras rapidamente: faz sentido porque é uma história narrada em primeira pessoa, pelo herói em si. E não tive a impressão de ser uma história contada por um velho ao final de sua vida: Kvothe, no momento da narrativa, ainda é relativamente jovem, e não chega a ser um velho sábio – a todo momento eu me perguntava se Kvothe ainda viverá mais aventuras depois de terminar seu conto.
Gosto de livros que entregam pouco durante a narrativa; que fazem com que o leitor descubra aos poucos as qualidades e histórias dos personagens – gosto de voltar ao começo do livro quando já estou chegando ao final, para rever minhas impressões sobre o que aconteceu.
The Name of the Wind (2009)
Eu amo esse livro!!! Tô que não me aguento de desejo pelo segundo volume. Logo, logo a editora Arqueiro irá publicar.Menina…tbm não tive tempo de encontrar defeitos, não. Inclusive, fiquei encantada com o prólogo e o epílogo do livro, que descrevem o silêncio que rodeia a pessoa de Kote – “um silêncio em três partes”- o som paciente do homem que espera a morte. Parece poesia…lindo!Adorei sua resenha.Bjs
Adorei!Já sigo, pode me seguir também?http://chadelivros.blogspot.com/