Charlotte Kinder é divorciada, tem dois filhos, muito dinheiro e uma vida que é um saco. Ela não se recuperou da traição e novo casamento do marido, não está sabendo lidar com a filha mais velha adolescente e seu coração frio como pedra impede que ela encontre um novo relacionamento.
E aí ela resolve ler Jane Austen, se apaixona pelas histórias e resolve se dar de presente uma estadia em Austenland. Como já sabemos, Austeland oferece uma imersão de luxo no mundo de 1818 onde as moças são hóspedes e os agradáveis Misters Darcys são atores muito bem treinados.
Parece mas não é.
Olha, eu li o primeiro livro, Austenland, e achei bonitinho – o filme de mesmo nome é melhor – então vim pra esse com a maior boa vontade. Quando começaram as insinuações de que a autora estava tentando misturar gêneros – menções a jogos de detetive, Agatha Christie e que tais – eu achei que ia ser tudo uma brincadeira. Mas não foi bem assim.
Uma coisa que me incomodou nesse livro foi o parece-mas-não-é. Sei lá, se você quer inventar um triângulo amoroso, tem que pelo menos mostrar que os dois jovenos estão interessados na moça, e não simplesmente fazer a dona mudar de idéia do nada e DE REPENTE perceber que nossa o outro cara também é gato. Parece que a autora estava – de novo – pensando em forma de filme, sabe? Do tipo, todo mundo sabe com quem a mocinha vai ficar porque é o ator mais bonito e tal. Mas o livro simplesmente não convence.
Eu sou fã de Jane Austen e curti muito a pegada do primeiro livro. Achei interessante a ideia de uma moça moderna inserida em época passada artificialmente e agora com dificuldade de se encaixar. Mas eu também sou fã de comédias românticas e o livro não é nem engraçado nem romântico.
E sou fã de Agatha Christie e o mistério é uma droga, muito do mal explicado e totalmente não convincente. E acaba que o livro não agrada ninguém, né. Não custa nada lembrar que se você não entende muito bem do seu material base – no caso, Austen e Christie – nem tenta fazer algo semelhante, nem mesmo numa homenagem.
A autora atraiu um público que gosta de Jane Austen, gente. Nem dá pra falar “ain, mas eu gosto dos filmes”. Na minha visão mesmo os filmes são para um público bem específico que vai ter pouco interesse nesse romancezinho trouxa que ela inventou e nessa trama esdrúxula de assassinato.
Stream of consciousness
Um outro ponto que é bom reforçar: gente. Stream of consciousness NÃO É LEGAL quando você está lendo coisas leves. A menina é a narradora, ok, mas não rola ficar escrevendo todo e qualquer pensamento que vem na cabeça dela o tempo inteiro. Juro que tem um momento em que o cara chega nela e fala algo flertador. Flerte de época, não esqueçam, então é tipo “Senhorita, poderia me dar a honra de me permitir acompanhá-la até o banco no parque” ou algo assim. E aí ela passa DUAS PÁGINAS sem zoeira pensando em todas as possibilidades possíveis e impossíveis de se seguirem talvez um dia provavelmente a esse fato. E só depois de duas páginas lendo seus pensamentos é que a narrativa volta para o “tempo presente” e finalmente pude ler o que raios ela respondeu.
A história é burra, o romance idiota e a única personagem boa, Miss Charming, aparece por muito pouco tempo pra salvar essa mediocridade.
Quem sabe uma próxima.
Midnight in Austenland (2012) de Cameron Dokey. Série Austenland livro 2