O ano é 1138.
Para aqueles que estavam cansados da vida atribulada mas não tinham a intenção de entrar para o claustro, existia a possibilidade do aluguel de uma das casas dentro dos muros da Abadia, com direito a comida, bebida e pequenas manutenções, em troca de uma substancial doação à igreja.
Master Bonel é um senhor de terras poderoso que não tem filhos legítimos. Ele se apaixona pela irmã do artesão da cidade, a bela viúva Richildis, e promete deixar sua propriedade em testamento para o filho dela, o jovem Edwin, caso ela se case com ele. O temperamento do jovem, no entanto, causa-lhe um desapontamento intenso, e ele decide se vingar do garoto deixando a herança para a Abadia de São Pedro e São Paulo em Shrewsbury em troca do aluguel de uma casa.
Richildis é uma senhora muito atraente, que após ter enviuvado do seu grande amor, que a deixou com dois filhos – Edwin, o mais novo, não chega aos quinze anos – aceita se casar com Bonel pois acredita que a vida de confortos que ele oferece a ela e a herança prometida a Edwin mais do que compensam o humor tempestuoso do homem. Quando Bonel decide deixar suas terras para a igreja, não protesta, mas tenta fazer com que ele se reconcilie com seu filho.
Edwin, com quase quinze anos, fez de tudo para agradar seu novo padrasto. Mas a vida livre que levava na cidade em nada se assemelhava à subserviência que dele esperava Bonel. Ambos de temperamento forte, passavam os dias brigando. Até que a briga final acontece, e ele foge para a casa do tio, na cidade, deixando Bonel a espumar de raiva – o que o leva a doar sua propriedade à igreja.
Aelfric nasceu homem livre, mas quando preferiu procurar emprego em outras partes, Bonel usou uma particularidade da lei inglesa para entrar com um processo provando que Aelfric na verdade é um vilão (tipo de servo na era medieval que recebia um pedaço de terra e pagava aluguel com o seu trabalho. Os vilões não podiam se mudar sem autorização do seu senhor.), obrigando-o a segui-lo até sua nova casa na cidade. A sina de Aelfric é ainda pior por ele ser apaixonado pela bela Aldith, criada de Richildis, que, sendo uma mulher livre, nada tem de vantajoso em se envolver com um vilão.
Meurig é o filho ilegítimo de Bonel com uma criada galesa. Ele tem um tio-avô que é monge e resolveu visitá-lo uma tarde para fazer o velho relembrar os bons tempos. Ele usa um unguento feito de monk’s hood, uma erva venenosa mas de poder intenso contra dores, para massagear as costas do idoso tio-avô.
Ele aproveita para jantar na casa do seu pai, no terreno da Abadia, e para visitar a bela Aldith.
O Abade Heribert, por ter demorado em se declarar a favor do rei Stephen, é chamado a Londres para uma conferência, onde provavelmente será destituído de seu título e substituído por alguém de pulso mais firme – e preferências políticas mais favoráveis. O Pior Robert não tem dúvidas de que ele será escolhido para ser o novo Abade, e se instala nos aposentos do mesmo quando este se ausenta.
Irmão Petrus, o cozinheiro da Abadia, odeia o Prior Robert com todas as suas forças, e joga mil maldições no prato especial de faisão para a ceia do Prior. O Prior, feliz com a enorme propriedade que Master Bonel está prestes a doar para a igreja, decide fazer um agrado e pede ao Irmão Petrus que leve um prato do excelente faisão ao hóspede de honra.
Aelfric leva o prato. Aldith o esquenta na cozinha. Edwin vai até a casa para tentar uma reconciliação com Bonel em respeito à sua mãe. Uma briga horrenda ocorre, Bonel age de forma bastante desagradável e Edwin finalmente sai em disparada, depois de ter dito algo tão irritante que Bonel jogou a cumbuca na direção dele.
Richildis traz o prato especial que o Prior mandou, na tentativa de acalmar o marido.
Bonel come o faisão, mas não deixa de ficar irritadíssimo com o jovem Edwin.
E uma hora depois Bonel começa a passar mal, e tudo o que é feito por ele não adianta.
Bonel está morto, e foi porque comeu faisão envenenado com monk’s hood..
O Irmão Cadfael, galês de nascença e herbalista da Abadia, está bastante feliz que há um sobrinho-neto do Irmão Rhys para fazer companhia a um senhor tão simpático. Ele avisa a todos na enfermaria da periculosidade do preparado de monk’s hood, que pode ser usado na pele sem perigo mas não deve ser ingerido ou passado nos olhos de forma alguma.
Quando há o caso desagradável de um hóspede que passou mal, é Cadfael que é chamado, junto com o enfermeiro da Abadia; ambos são impotentes para conter o que é obviamente um envenenamento. O cheiro característico de sua própria poção faz com que ele declare que aquilo foi um assassinato por envenenamento proposital.
O suspeito óbvio é Edwin, que além de estar com a herança em jogo havia tido uma briga violenta com o homem durante a refeição.
Mas Cadfael enfrenta um novo perigo: Richildis é também a moça com quem ele havia prometido se casar, quarenta anos antes, antes que ele partisse na Cruzada a Jerusalém e se esquecesse totalmente dela.
Reconhecendo o antigo namorado e com a certeza de uma mãe, ela apela a Cadfael para que ele salve seu filho que é inocente.
Agora à minha opinião. Eu gosto muito desse livro. O crime é interessante e a resolução me parece provável – sem efeitos que nos parecem impossíveis para a época. A política foi deixada um pouco de fora, já que Stephen está já causando no sul da Inglaterra, mas a diferença entre este país e seus vizinhos galeses – e especialmente a diferença entre as leis de ambos os países – faz com que a reconstituição histórica fique muito boa.
Gosto de tudo o que lembra o passado de Cadfael, esse monge-detetive que conhecemos aos sessenta anos e que tem um passado extremamente atribulado, então Richildis foi uma presença bem vinda. Os dois moleques – um dos quais eu não mencionei – Edwin e Edwy dão vida à trama, e tiram o foco, para variar um pouco, do tradicional romance entre dois belos jovens que a autora tem mania de colocar na história.
Mas vou falar do que eu mais gostei do livro.
O Prior Robert pode até aparecer pouco nos livros, mas ele é de uma presença tão marcante que mesmo com uma descrição concisa eu o vejo em minha frente. Portanto, como qualquer pessoa normal, me irrito muito com ele (só perde do pentelho puxa saco Irmão Jerome) mas o admiro muito. A dinâmica entre Robert, Heribert e Radulfus é de chorar de rir. Se você já leu o primeiro livro da série você vai entender essa parte muito melhor, mas a autora constrói uma atmosfera impecável e é bem capaz do leitor gritar de alegria junto com os outros monges na cena final mesmo sem conhecer o Prior antes.
Acho que isso só demonstra a qualidade da escrita da autora e sua habilidade incrível de criar personagens e tramas.
Um excelente livro policial com um toque histórico que agradará a todos os fãs do gênero.
Monk’s Hood (1980) – As Crônicas do Irmão Cadfael – Livro 3