Novembro 21, 2024
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Segue uma resenha crítica por fã ensandecida, incluindo resumo de todos os capítulos do primeiro volume da série e bastante reclamação do Tom Bombadil.

Um dos livros de fantasia mais famosos da história do planeta, esse clássico inspirou uma infinidade de outros autores e definiu o que é o ambiente de fantasia medieval em diversas mídias. Com personagens icônicos, uma trama simples e satisfatória, e uma ambientação tão maravilhosa que quase chega a ser perfeita, o livro ganhou popularidade imensa ao longo dos anos, teve uma adaptação para os cinemas que foi sucesso de público e crítica, e gerou dezenas de produtos que vão desde camisetas do Gandalf até sistemas de RPG, passando por quadrinhos, videogames, jogos de cartas, jogos de tabuleiro e uma equivocadíssima adaptação cinematográfica do outro livro do mesmo autor.

Mas e o livro em si, hein, gente? Quem foi que leu essa gracinha com mais de mil páginas e nem estou falando das introduções e dos apêndices? E põe o dedo aqui quem foi lá com a maior boa vontade, comprou uma edição lindona, pegou o livro na convicção e dormiu logo no primeiro capítulo!

Quem é fã sabe (e eu sou das fã doente mesmo) que o principal problema do livro é que ele começa muito lerdo. Com exceção de alguns momentos mais empolgantes pouquinha coisa, o livro só começa a engrenar lá pelo capítulo NOVE. Na minha edição de bolso favorito, isso é na página 188. O que significa que o jovem incauto vai ter que ler quase duzentas páginas pro livro ficar legal, gente. Me ajuda. Se você for daqueles leitores com mais preguiça ainda, dá pra falar que a primeira parte inteira do livro é lerda e chata.

A gente pode falar que o livro é velho e que antigamente as coisas era lerda, mas vamos comparar? Um Corpo na Biblioteca, da Agatha Christie, de 1942, começa com o corpo sendo encontrado (logicamente na biblioteca) na página UM do livro. Orgulho e Preconceito, da Jane Austen, de 1813, já manda a melhor citação da história da literatura na primeira frase do livro. E vou ser legal e mostrar que uma outra frase célebre da literatura, que todo mundo conhece, e que é considerada por críticos como sendo uma das melhores primeiras frases de um livro, aparece justamente naonde? No livro anterior a esse, o maravilhoso O Hobbit. Do mesmo autor, claro.

Então o que que rolou pro Tolkien resolver enlerdar e fazer a história começar só duzentas páginas depois do começo do livro?

Primeiro que nada é por acaso. Os hobbits são apresentados não só como os protagonistas da história como também a ligação do leitor com esse mundo estranho. Apesar de pequeninos, de viverem em buracos, e de terem pés peludos, os hobbits são descritos como afáveis, gorduchos, amantes da boa comida e da boa companhia, interessados em fofocas e fumar cachimbo, gregários e avessos à aventuras. Os hobbits somos nós leitores, enrolados no cobertor e lendo o livro no sofá, enquanto ouvimos o fogo crepitar na lareira e deixamos as aventuras bem, bem longe.

O autor precisa muito que o leitor entenda os hobbits, porque tudo o que acontece no livro depois vai ser explicado por esse começo. O começo do livro é como uma mini-aventura, em que os hobbits saem pelo mundo sozinhos, sem a ajuda das Pessoas Grandes, com uma missão obscura e um objeto mágico que eles não sabem como funciona, perseguidos por monstros muito mais poderosos do que eles. O começo do livro é chato porque os hobbits fazem pouca coisa, e dependem de outras pessoas para conseguirem se safar dos problemas; isso vai ser colocado em oposição aos momentos finais do livro, em que eles estão sozinhos de novo em situações infinitamente mais difíceis.

No entanto, apesar de ser possível explicar esse começo mais lento, não se pode negar que é lento, e para os leitores jovens e dinâmicos de hoje em dia pode ser muito difícil ultrapassar esse prelúdio na unha.

Como eu sou a sua leitora mais legal que vocês conhecem, vou não só falar do livro como também dar aquela resumida nos capítulos, pra vocês saberem qual capítulo pular. Prometo que tudo fica mais fácil depois do capítulo nove.

Para os incautos é importante mencionar que o livro é dividido em seis partes, que são chamadas de livro I, livro II e tal até o livro VI. As mais de mil páginas intimidaram os editores, que decidiram publicar a história em três partes: os livros I e II viraram A Sociedade do Anel; os livros III e IV viraram As Duas Torres; e os livros V e VI viraram O Retorno do Rei. Ou seja, quando eu falei acima que o livro demora pra engrenar, levem em conta que na minha opinião o livro I inteiro é bem difícil e as coisas começam a melhorar mesmo só no livro II.

Resumo completo de A Sociedade do Anel

Tradução / Nota à Edição Brasileira.

Uma das primeiras coisas que geralmente aparecem no livro é alguma nota sobre a tradução. Eu conheço a tradução da Lenita e eu sei que ela foi cuidadosa, e ela e o Kyrmse se esforçaram para manter tudo lindo e fazem questão de falar disso nesse começo – e acredito que qualquer edição brasileira contemporânea tenha o mesmo cuidado. As notas sobre a tradução podem incluir decisões sobre nomes de pessoas e lugares, e geralmente falam sobre a questão dos alfabetos. O Tolkien lindinho inventou um alfabeto para os idiomas élficos da sua ambientação, e ele usa esse alfabeto para escrever em inglês em várias partes do livro. Os especialistas em Tolkien (por exemplo o Kyrmse) fizeram um trabalho muito legal adaptando esse alfabeto para o português.

Prefácio.

Esse é o prefácio à segunda edição que o autor escreveu em 1965 (lembrando que o livro foi originalmente publicado entre 1954 e 1955). É aqui que ele explica que ele pensou no livro como continuação do seu outro livro, O Hobbit (publicado em 1937 e um sucesso tão grande que garantiu que os editores publicassem essa continuação tardia quase vinte anos depois), mas que o que ele queria mesmo escrever era sobre ‘o mundo antigo’ (que se tornou a coletânea O Silmarillion, publicada postumamente), e que a história daí foi se transformando em parte do que ele realmente queria escrever, só que com hobbits. Ele também fala da recepção do livro pelos fãs, e de como ele fica feliz com a atenção porém não gosta que entendam o livro como uma alegoria da Segunda Guerra Mundial. De novo, essa parte não é importante se você chegou agora, a não ser que você se interesse pelas motivações dos autores em geral quando escrevem seus livros.

As versões atuais do livro tem a tendência de começar falando do histórico das edições, porque O Senhor dos Anéis tem uma característica que a maioria dos livros clássicos não tem: foi escrito por um acadêmico perfeccionista que fazia questão de que todas as partes do livro estivessem perfeitas. Considerando que foi um livro escrito à mão ao longo de mais de vinte anos; que foi datilografado e redatilografado por diferentes editores; e que contém nomes bizarros e idiomas inventados; não é à toa que ele fosse tão neurótico com isso. Mas claro que ser amigo dos editores – e ter vendido bilhões de cópias logo de início – ajudou bastante. Além disso, depois que ele morreu, um dos filhos dedicou a vida escrevendo uma série de livros documentando o o desenvolvimento da obra, e essa série se tornou outra campeã de vendas. Ou seja, não só a história do livro está documentada, como a história do processo criativo do autor está documentada – de uma forma que é pouco vista em outras obras.

Mas como você é um leitor casual que acabou de chegar, pode pular essa parte com tranquilidade porque ela só interessa aos fãs hardcore.

Prólogo

E só agora finalmente chegamos ao prólogo. Importante ressaltar que aqui o autor já está dentro da narrativa e fala como se estivesse escrevendo a história acadêmica dos hobbits como se tivesse realmente acontecido, já que, no universo do livro, O Senhor dos Anéis é uma tradução adaptada dos diários dos hobbits.

Parte 1: a respeito de hobbits.

Se você leu O Hobbit, pode pular essa parte tranquilamente porque é um resumo do que são hobbits, seus costumes e história. Se você não leu O Hobbit e está sem vontade de ler um livro infantil escrito para ser lido para seus filhos antes deles dormirem, pode ler mas já aviso que é um monte de nomes de famílias (estabelecendo a preocupação provinciana dos hobbits com quem é primo de quem mas bastante entediante).

Parte 2: a respeito da erva-de-fumo.

Nem lê. Primeiro porque tem spoilers, segundo porque ninguém se importa. Resumo: hobbits gostam de fumar cachimbo e a erva que eles usam é famosa.

Parte 3: sobre a organização do Condado.

História das famílias que formam as aldeias dos hobbits. Talvez possa dar uma ideia sobre a personalidade dos personagens Merry e Pippin, mas em resumo: pula.

Parte 4: sobre o achado do anel.

Única parte importante do prólogo; primeiro porque é curta, segundo porque mesmo tendo lido O Hobbit não custa lembrar o momento em que esse livro vira continuação daquele – já que, afora alguns personagens e a ideia dos hobbits, um livro não tem nada a ver com o outro, já que a ambientação, os temas, a narrativa, são todos completamente diferentes. Mas, se você quiser pular, tá tudo bem, porque o livro fala disso de novo várias vezes.

Parte 5: Nota Sobre os Registros do Condado.

Vocês sabia que O Senhor dos Anéis é escrito como se fosse uma tradução de uma coleção de diários dos hobbits que participaram da história? Então aqui o autor fala disso, da sua “tradução”, da forma como contam as datas no Condado e como o “Livro Vermelho” (nome dos diários dos hobbits) foi composto e preservado pelos elfos. Ou seja. Pula. E aí AGORA começamos com a história eeee!!

A Sociedade do Anel

Livro I

Capítulo 1: Uma Festa Muito Esperada.

Já começa pulando esse capítulo. Bilbo Baggins é o excêntrico do rolê; depois de sair pra ter aventuras e voltar rico, ele adota um primo distante chamado Frodo que é um jovem hobbit gente boa; os dois preparam uma festa super especial pra comemorar o aniversário de 111 anos do Bilbo e de 33 anos do Frodo; a família Gamgee é de jardineiros respeitáveis e pai e filho cuidam do jardim dos Baggins há quarenta anos; Gandalf é um mago amigo de Bilbo que aparece na festa pra fazer os fogos de artifício; a festa é mesmo o máximo mas no final o Bilbo faz um discurso constrangedor e desaparece num truque de mágica de mau gosto, deixando os convidados largados, assustados e com raiva lá na festa. Na casa de Bilbo, ele e Gandalf conversam em segredo: Bilbo fez a festa de aniversário para ser de despedida e pretende ir embora do Condado sem ninguém saber. Bilbo tem uns ataques de raiva bizarros, ele e Gandalf quase brigam porque Bilbo não quer deixar seu anel mágico pra trás, mas no fim Bilbo vai embora de mochila, deixando anel em um envelope endereçado para o Frodo. Quando Frodo volta da festa, depois de acalmar os ânimos dos convidados ultrajados, ele encontra Gandalf dizendo que Bilbo de fato foi embora e deixou tudo de herança pro Frodo, inclusive o anel mágico. Galdalf diz pro Frodo que ele está bem preocupado com o anel, diz que precisa encontrar várias respostas para perguntas sérias e diz que vai embora pra cuidar disso. Ele avisa pro Frodo não usar muito o anel e que quando der ele aparece de volta. Fim do capítulo.

Capítulo 2: A Sombra do Passado.

Esse daqui tem que ler. Explica todas as motivações que levam a história a acontecer e é um dos melhores capítulos do livro todo. Era uma vez um cara malvado que queria dominar todos os povos através de magia, e ele consegue isso criando um anel mágico. Parece bobagem, mas os três grandes povos poderosos do continente também têm anéis mágicos que controlam tudo: os elfos têm três anéis, os reis anões têm sete anéis e os governantes humanos tem nove anéis. Sauron, que é o malvado, consegue fazer um anel que é mais poderoso que os outros, e domina quase tudo. Ele domina os nove reis humanos. Ele destrói ou captura os anéis dos anões. E os três anéis dos elfos não são páreo para o poder do Um Anel.

Tá mas e daí né o que tem a ver esse monte de história com os hobbits, já que isso tudo é coisa de milhares de anos atrás? Bom, um dia os elfos e os humanos se juntaram para fazer frente ao Sauron, e Sauron matou o rei humano, e o rei elfo tava morto também, e Isildur, filho do rei dos humanos, cortou fora o anel da mão de Sauron e pegou o anel pra ele. Sem o poder do anel, Sauron foi derrotado e o mundo voltou a ter esperanças. Até aí, outro monte de velharia. Isildur famosamente morreu numa emboscada voltando dos campos de batalha para seu reino, e o anel de Sauron se perdeu. Lembra que quando o Bilbo tio do Frodo saiu pra se aventurar com os anões ele encontrou um bicho estranho no meio das cavernas e achou um anel aleatório no meio de um túnel abandonado? Lembra que esse anel deixa o portador invisível quando usado? Pois é, esse anel aí, que o Bilbo usou pra desaparecer na sua festa de aniversário e depois deixou no envelope pro Frodo antes de ir embora, é justamente o anel de Sauron. O Um Anel. O Anel para todos governar, o Um Anel para a todos encontrá-los e na escuridão aprisioná-los. Gandalf conta tudo isso para um jovem Frodo atônito, joga o anel no fogo da lareira e mostra as letras mágicas que aparecem quando o anel fica quente; as letras do verso maligno que o próprio Sauron criou junto com o anel nas forjas da Montanha da Perdição.

Gente, que capítulo maravilhoso. De arrepiar. O livro passa de uma historinha fofa com criaturinhas baixinhas que gostam de comida e de fofocas, e passa a ser uma narrativa séria, sombria, com raízes históricas e elementos fascinantes: os elfos, Sauron, Mordor, o Um Anel. É disso que a gente fala quando ficamos empolgadas com O Senhor dos Anéis; é isso que faz o livro ser o máximo; é essa ambientação grandiosa e fantasiosa que a gente ama!

E aí chega o capítulo três e tudo é sono de novo.

Capítulo 3: Três Não É Demais.

Pode pular sem culpa. Gandalf foi embora depois de colocar pânico nos hobbits. Frodo decide que vai levar o anel para longe, pra tentar dar um jeito de destruir o artefato. Sam é um pobre jardineiro que ouviu parte da história pela janela e é obrigado por Gandalf a ir junto com Frodo. Pippin é um parente distante de Frodo que vem para o Condado para ajudar na organização de tudo, já que Frodo decide vender a casa e falar pra todo mundo que vai se mudar para perto de Pippin, numa outra aldeia hobbit. Os três começam sua jornada para Valfenda. Eles descobrem que cavaleiros de preto estão fazendo perguntas sobre um Baggins. Eles encontram elfos que contam que faz tempo que Gandalf não é visto e que os cavaleiros negros são servos do inimigo.

Capítulo 4: Um Atalho Para Cogumelos.

Zero coisas interessantes acontecem aqui. Pode pular. O trio de hobbits anda pelas matas tentando chegar na balsa e um fazendeiro ajuda eles. Cavaleiros negros são assustadores. Bora.

Capítulo 5: Conspiração Desmascarada.

Pula. Frodo cruza o rio de balsa, vê que escapou por pouco de um cavaleiro, descobre que seus amigos hobbits Merry e Pippin sabem de tudo sobre sua viagem e querem ir com ele. Ele aceita e eles decidem viajar pela floresta velha pra evitar a estrada e os cavaleiros.

Os capítulos 3 a 5 são aquele problema que eu falei acima. Dá pra entender o objetivo de demonstrar a ameaça dos cavaleiros negros. Dá pra entender que o autor quis demonstrar como os hobbits são ao mesmo tempo indefesos e cheios de recursos que podem parecer bobos mas muitas vezes os salvam. Mas também dá pra pular.

Capítulo 6: A Floresta Velha.

Olha, eu gosto desse capítulo, porque adoro a floresta velha. Mas se eu fosse você, eu pulava porque é um monte de hobbit sem noção andando no mato, aí eles são atacados por árvores malignas e são resgatados por um homem bizarro chamado Tom Bombadil. Ele usa botas amarelas e canta. E quando eu falo que ele canta, eu quero dizer isso mesmo: Tolkien adorava poesia e adorava música, e existe uma infinidade de poemas e canções ao longo do livro, muitas delas inclusive em élfico. Eu sempre pulo poesia em livro, então sou suspeita pra falar, mas se você curte, manda ver, tem de monte nesse capítulo e nos próximos dois. A minha birra com o Tom Bombadil é que ele poderia não existir que nada muda na história. E a outra parte chata é que, enquanto as canções dos elfos são todas melancólicas e belas, as do Tom Bombadil são assim, ó:

Ei boneca! Feliz neneca!
Dingue-dongue dilo!
Dingue-clongue! Não delongue!
Largue logo aquilo! Tom Bom, jovial Tom,
Tom Bombadillo!

Desculpa, gente. Não dá. Para os puristas, nem em inglês rola, porque hey, doll, merry doll, ring-a-dong-dillo não melhora nada não. Eu nem sei se eu entendo qual é a do Bombadil; tem gente que ama e defende pra sempre; tem gente que tem altas teorias. Pra mim ele é só um idoso mala que tem uma loiraça em casa e canta as musiquinhas porque o Tolkien ainda não tinha decidido que O Senhor dos Anéis definitivamente não era pra criança e ainda estava tentando ser fofo. 

Capítulo 7: Na Casa de Tom Bombadil.

Nada de relevante acontece aqui: os hobbits são recebidos na casa do Tom Bombadil, ele canta muito, ele ignora os poderes do anel, ele tem uma esposa linda e loira, ele dá conselhos sobre o caminho que eles devem seguir. Ele canta muito. A moça loira canta também. Fim.

Capítulo 8: Névoa nas Colinas dos Túmulos.

Gosto. Mas pula. Os hobbits vacilam, são pegos por espíritos dos antigos reis mortos, são resgatados por Tom Bombadil e acompanhados por ele o resto do caminho até Bree. Importante: Tom dá a eles algumas espadas encontradas nos túmulos e isso é relevante no futuro. Eu poderia falar que o capítulo é importante só por isso; ou porque é arrepiante e dá um efeito de perigos horripilantes por todos os lados da ilha da fantasia do Bombadil, mas vamos ser realistas? Vamos. Lá na frente quando essas espadas forem importantes, a maioria dos leitores nem vai lembrar de onde elas vieram. O autor sabia disso e faz aquele remember esperto. Então pode pular aqui.

Capítulo 9: No Pônei Saltitante. | Capítulo 10: Passolargo. | Capítulo 11: Uma Faca no Escuro.

Opaaa chegamos na parte bouaaaa urrul! Leiam esses porque vale a pena. Os hobbits chegam em Bree, a cidade onde hobbits e humanos convivem em harmonia, e vão jantar na estalagem do Pônei Saltitante, o lugar onde eles deveriam encontrar Gandalf. Nesse ponto, os hobbits estão preocupadíssimos com o atraso de Gandalf e com a perseguição dos cavaleiros negros. Frodo se sente observado por um cara estranho. Frodo ouve Pippin contando sobre a festa de aniversário do Bilbo e fica preocupado de alguém relacionar o desaparecimento mágico de Bilbo ao anel; decide subir na mesa pra cantar e desviar a atenção; ele tropeça, cai, o anel entra no dedo dele e ele desaparece. Geral fica atônito; mesmo ele saindo de debaixo da mesa depois como se nada tivesse acontecido, o pessoal fica desconfiadíssimo e Frodo acha que vai se ferrar. Os hobbits decidem ir pro quarto e ficar longe do tumulto. Aí chega Strider, ou Passolargo na tradução, um humano andarilho, que entra no quarto com eles e começa uma conversa muito suspeita. Sam se preocupa, achando que ele é inimigo. Nisso o taverneiro chega e entrega uma carta pro Frodo, que Gandalf pediu pro taverneiro mandar pro Condado meses antes. Na carta Gandalf está justamente falando pro Frodo que Passolargo é um amigo e um excelente companheiro. Os hobbits decidem aceitar a ajuda de Passolargo; a estalagem é atacada por cavaleiros negros mas graças a Passolargo ninguém se fere; eles decidem fugir no dia seguinte. Passolargo dá mais informações sobre os cavaleiros negros: eles são espectros malignos que são ligados ao Um Anel; são os nove reis humanos escravizados por Sauron tantos anos antes.

Agora a coisa começa a andar. Passolargo é um dos melhores personagens do livro, a apresentação dele é memorável, e a aventura aumenta de intensidade; os inimigos parecem que estão por todos os lados e os cavaleiros negros vão de ameaças imaginadas a criaturas muito reais mas não menos ameaçadoras. É um dos poucos monstros que não perde o apelo depois da revelação do que eles são. Tolkien é mestre em criar cenas tensas, e os cavaleiros negros são vilões muito apropriados.

Para fugir dos cavaleiros negros que estão patrulhando a estrada, Passolargo faz um atalho monstro pelos pântanos para levar os hobbits até um esconderijo dos elfos. Os cavaleiros estão na cola. Eu adoro a ambientação do Tolkien, então todas as descrições sobre as construções em ruínas feitas pelos povos antigos são fascinantes pra mim; entendo, no entanto, que para leitores normais elas sejam só chatas. Cena memorável: eles sobem num morro lá e os cavaleiros emboscam todo mundo e tem lutas e o Frodo é apunhalado por um dos cavaleiros!

Capítulo 12: Fuga Para o Vau.

Devo admitir que o fim do livro I é bem legal.  Eles escapam dos cavaleiros e passam dias andando pelos pântanos com o Frodo machucado ficando cada vez pior. Aí eles trombam com um elfo gente boa que troca umas novidades preocupantes com o Passolargo. Eles decidem arriscar uma última corrida. Cena memorável: o Frodo já quase delirante com a facada maligna sobe no cavalo do elfo e corre pela estrada, tentando chegar no rio. Passolargo e o elfo estão confiantes que assim que Frodo atravessar o vau, que é uma parte do rio que dá pra atravessar a cavalo, ele vai estar a salvo dos cavaleiros. Frodo olha pra trás e vê: nove cavaleiros na perseguição! Eles estão quase alcançando! Frodo está sem forças! À distância, ele vê Passolargo e um ser iluminado ao lado dele! Assim que Frodo atravessa o vau, o rio transborda. Os cavaleiros que estavam no rio são levados pra longe. Os cavaleiros que estavam na outra margem ficam com tanto medo do ser iluminado que preferem pular na água também. Frodo desmaia. Importante ressaltar a participação única e especial do Glorfindel, que mostra um pouquinho do quão poderosos os elfos são – que é algo que vemos raramente no restante do livro.

Livro II

A segunda parte de A Sociedade do Anel tem dez capítulos e são todos impecáveis. A trama é boa, a ambientação é incrível, os personagens são maravilhosos, e os plot twist é tudo inteligente. Até agora eu falei dos livros cheio de spoiler mesmo, já que o intuito era que o leitor incauto chegasse aqui no começo do livro 2 com a história fresca na cabeça pra poder começar daqui. Mas se você não quer spoiler pra poder ler sozinha, esse é o momento de você deixar de ler aqui pra poder ir ler o livro lá, porque eu vou contar o que acontece no resto da história. Ain mais eu vi os filmes! Então beleza, bora; mas eu avisei.

Capítulo 1: Muitos Encontros.

Bilbo está vivo e bem. Gandalf também! Os hobbits se divertem entre os elfos. Frodo descobre que o Bilbo e Passolargo são amigos. Todos têm tempo de relaxar, colocar a fofoca em dia, e no caso de Frodo se recuperar de um ferimento que quase matou ele.

Capítulo 2: O Conselho de Elrond.

Conhecemos as raças que se unem contra Sauron, descobrimos o tamanho da ameaça que eles estão enfrentando, e finalmente chegamos na única solução possível: um grupo pequeno de pessoas deve se aventurar por metade do continente, ir até os domínios do próprio Sauron, e jogar o anel nas forjas da Montanha da Perdição, onde ele foi forjado e onde há o único fogo quente o suficiente pare derretê-lo. Eles podem contar com aliados em Lórien, uma floresta ao sul do outro lado das montanhas, mas não com Saruman, um mago que costumava ser legal mas agora está atrás do anel também.

Capítulo 3: O Anel Vai para o Sul.

O grupo de pessoas que vai com o anel é: 1) Gandalf; 2) Passolargo que agora todo mundo chama de Aragorn; 3,4,5,6) os quatro hobbits; 7) Boromir, um príncipe dos humanos do sul que teve sonhos proféticos sobre um artefato que poderia ajudar na guerra contra Sauron e viajou centenas de quilômetros para descobrir o que tava pegando. Ele quer que o grupo leve o anel para Gondor, a capital dos homens, para que de lá eles decidam o que fazer. 8) Legolas, um príncipe elfo das florestas do norte, que vem com a excelente notícia de que Gollum, a criatura doida que tinha ficado anos com o anel antes de perdê-lo para Bilbo e que estava preso entre os elfos, na verdade escapou eeee; 9) Gimli, um dos anões da Montanha Solitária, filho de um dos antigos companheiros de Bilbo nas aventuras com o dragão. Essas nove pessoas viajam para o sul com o intuito de cruzar as montanhas por uma trilha no topo dos picos mais altos ou de viajar para o sul e passar pela terra de Rohan; mas depois da traição de Saruman, o pessoal está meio assim. Eles decidem atravessar pela passagem das montanhas, mas a montanha está de mal humor, neva muito, a passagem é bloqueada e eles são obrigados a voltar. Resta uma única opção: as minas de Moria.

Capítulo 4: Uma Jornada no Escuro. | Capítulo 5: A Ponte de Khazad-Dûm.

Sem dúvida a melhor parte do livro inteiro. Durante a narrativa, os personagens passam por diversos locais, todos diferentes para os hobbits, e o autor se preocupou muito em criar as raças e culturas e idiomas do mundo dele. Mas a obra-prima vai sempre ser Moria. A imensa mina abandonada dos anões, com centenas de milhares de túneis escuros que se aprofundam pelas montanhas; o mistério do que aconteceu com a última expedição dos anões; a porta com o enigma; o guardião do lago; drums in the deep. E o momento mais triste da história, que me fez jogar o livro longe quando li pela primeira vez; que quase me fez largar a história pra sempre; é impressionante como o autor consegue fazer um personagem ser tão importante em tão pouco tempo e criar uma morte tão memorável. Ao contrário de certos autores, Tolkien não acredita em matar personagens só para chocar o leitor; as mortes são heroicas, emocionantes e muito bem encaixadas na narrativa. A cena do filme é maravilhosa e todo mundo já deve ter visto o meme; mas a experiência de ler a cena pela primeira vez; a construção do ambiente claustrofóbico; a corrida pelas escadas e pela ponte; drums in the deep: se você precisava de algum motivo para ler o livro, está aqui. Esses dois capítulos compensam todas as mil páginas e todas as descrições possivelmente chatas.

A expedição dos anões foi dizimada por goblins; os antigos construtores das minas foram destruídos por um demônio das profundezas antigas; o Pippin consegue atrair tudo isso de monstro pra cima deles porque é um moleque sem noção; todos fogem dos goblins; Gandalf se sacrifica para salvar todos do demônio e cai com o bicho numa cratera imemorial. Os outros conseguem fugir.

Capítulo 6: Lothlórien. | Capítulo 7: O Espelho de Galadriel. | Capítulo 8: Adeus a Lórien.

Depois da tragédia, um pouco de poesia. Tolkien se inspirou na mitologia nórdica e druídica para criar a Terra Média, e ele tinha um profundo respeito pela natureza. Essas duas coisas aparecem aqui, com a cidade dos elfos. Ainda abalados com a morte de Gandalf, o resto da comitiva chega até Lórien, onde têm um último momento de paz. Lórien é uma floresta mágica que parece parada no tempo, ali só há sentimento de paz e tranquilidade. O mal do mundo não chega. Eles conhecem Senhora de Lórien, Galadriel. Ela usa seu espelho mágico para ajudar Frodo, passa mensagens para todos os membros da sociedade e dá presentes valiosos. Gimli, que é mal tratado por ser da raça dos anões, que sempre teve inimizade com os elfos, é não só muito bem tratado por Galadriel como também fica fascinado pela beleza da elfa e quando ela oferece um presente ele só pede um cacho dos seus cabelos.

Capítulo 9: O Grande Rio. | Capítulo 10: O Rompimento da Sociedade.

Para fechar essa primeira parte com chave de ouro, dois capítulos com várias animações. Gollum está vivo e perseguindo a comitiva. O grupo todo entra em desacordo sobre o que fazer e que caminho tomar. Boromir foi corrompido pelo anel e tenta atacar Frodo. Frodo foge e Sam vai com ele, eles atravessam o rio e decidem ir para Mordor sozinhos. Orcs atacam o restante da comitiva e levam Merry e Pippin embora. Boromir é morto tentando protegê-los. Aragorn, desconsolado, descobre que Frodo e Sam fugiram sem falar com ninguém e decide ir atrás de resgatar Merry e Pippin, deixando Frodo e Sam para continuarem o caminho sombrio sozinhos.

Esse final excelente com o cliffhanger perfeito garante que ninguém que chegou até aqui consiga deixar de ir atrás do segundo volume – ou do livro III, dependendo da sua situação. A sociedade está dissipada, dois morreram e os que sobraram estão cada um num canto. Os caminhos dos dois vão para lugares completamente diferentes. Frodo e Sam vão tentar passar pelas escarpas afiadas e pelos pântanos dos mortos para chegarem até o portão de Mordor. Merry e Pippin estão sendo levados para o sul, talvez para Saruman? E Aragorn, Gimli e Legolas agora tem a impossível tarefa de perseguir um destacamento de orcs que tem horas de vantagem carregando os prisioneiros. O final mostra a angústia de Frodo, a lealdade de Sam, a insegurança de Aragorn e a corrupção de Boromir. Para quem é acusado de descrever mato e pedra, Tolkien é um excelente construtor de cenas de ação e personagens, mesmo que muitas vezes pareça rígido. Ele escreve como se estivéssemos lendo um livro de história, em vez de escrever literatura, e dá pra ver que o que faz os olhos dele brilharem são os povos antigos e a história do mundo que ele criou.

Se fosse só um amontoado de mato e pedra, o livro não teria sido tão essencial para a formação da fantasia contemporânea. O que é que ele fez de tão esperto? Os elfos serem altivos e tristes? Os humanos serem guerreiros honrados, inteligentes e orgulhosos? A mitologia da ambientação, que vaza pelas linhas a todo momento? Gandalf? Moria?

Fico por aqui com esses questionamentos, e volto logo com o segundo volume da trilogia. Até lá.

The Lord of the Rings – The Fellowship of the Ring (1954) de JRR Tolkien. Trilogia O Senhor dos Anéis Volume 1

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