Maio 19, 2024
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Vício, na minha concepção, é algo que o indivíduo é fisiologicamente ou mentalmente incapaz de deixar de fazer.
Conseqüentemente, ‘droga’ é aquilo que faz com que o indivíduo se torne completamente dependente do seu uso.
Exemplos de drogas ilegais todo mundo pode dar, e de drogas legais também (ou alguém discorda do fato de que algumas drogas legais – vendidas em cada esquina – causam tanto ou mais dano do que drogas ditas ilegais?).
Mas e as drogas que ninguém nem considera nocivas? Ou, pior ainda, as drogas de cujas quais ninguém nem admite a droguice? As drogas que ninguém sabe. Ou melhor, para ser mais específica (talvez esteja sendo injusta com certas práticas, objetos ou animais), pessoas que são viciadas em coisas inusitadas.

Não estou falando de TOC ou outras coisas do tipo. Estou falando de VÍCIO mesmo.
Que nem este que me fez gastar o dinheiro que eu não tinha em livros que eu provavelmente não vou ler.
Não que eu não vá nunca ler nenhum desses livros (foram alguns muitos dessa leva – afinal, eu tinha acabado de ser recusada numa entrevista de emprego e ainda por cima um motoqueiro filho da puta tinha batido no meu carro), eu vou com certeza ler todos eles um dia. Mas se vocês me conhecem, sabem que pelo menos metade da minha estante de livros está na minha lista dos ‘por ler’.

E também não é apenas pelo prazer de comprar livros – tem dias em que eu entro na livraria, olho tudo e saio arrasada porque não achei nada que me interessasse pra comprar. Mas. É um vício. É triste, mas é verdade. Não o ato de ler, isso já faz parte da minha vida (afinal, fumo há trinta anos e nunca viciei) , mas o ato de comprar livros que eu não vou ler tão cedo.
Junta-se a isso, logicamente, o fato de que muitos livros eu leio e depois esqueço que li – e torno a colocá-los na lista dos ‘por ler’, que parece não diminuir nunca.

Mas todos são extremamente divertidos e úteis pra minha vida, isso eu posso garantir; ainda mais considerando a extensa pesquisa que estou eternamente realizando sobre o que eu chamo de ‘narrativas fantásticas infanto-juvenis’. Estas provavelmente serão tema de um trabalho extremamente relevante que pretendo publicar um dia e que além de se tornar um sucesso instantâneo contribuirá aos montes para o mundo inteiro e os universos paralelos.

Um bom exemplo da qualidade da literatura dos livros com que gasto meu precioso salário é Flora Segunda, título do tópico, afinal de contas.

O enredo é típico da literatura fantástica infanto juvenil, já que inclui uma heroína e um herói mirins se metendo no mundo dos adultos para corrigir o que acham que está errado. Claro que eles vivem num mundo fantástico que admite magia, onde todos na família da protagonista, inclusive sua mãe, fazem parte do exército de um Suserano decadente e moram numa mansão que deveria estar sendo mantida por um elemental ligado às estruturas da casa.O que parece apenas um conto juvenil de passagem para a vida adulta se torna de repente extremamente sóbrio quando é possível notar nas entrelinhas uma lição de moral bastante rara nos livros modernos: “Crianças (e especialmente adolescentes), esperem crescer para tentarem se meter no mundo dos adultos. Sabe aquele monte de coisas que nós não te contamos por acharmos que vocês são jovens demais? Pois bem, vocês são jovens demais. E por mais que a vida os puxe para a vida adulta – com mães ausentes e pais alcoólatras, por exemplo – (sentimos muito por isso), muitas vezes o ato de crescer não pode simplesmente ser apressado sem mais nem menos.”Isso é representado no livro pela relativa independência da protagonista, que logo depois é responsável por atitudes extremamente infantis.
Claro que não é uma obra prima, mas recomendo para qualquer leitor recém saído do Harry, por exemplo, e sem idéias de por onde continuar.Vale a pena.
E agora chega.

Título: Flora Segunda (2007)
Título Original: idem
De Ysabeau S. Wilce (EUA)
Primeiro livro da série

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