Ó, gente, pra quem tá na dúvida do que ler e curte fantasia, vai nesse site. Porque eles dão umas dicas muito boas! Fora O Senhor dos Anéis e Guerra dos Tronos e Harry Potter, que são os óbvios, eles recomendam livros de fantasias pouco conhecidos que valem muito a pena.
E bem que eu achava que esse livro tinha sido por uma mulher mesmo, porque pode ver que a maior parte dos livros de ficção científica/fantasia que têm as iniciais na capa são de autoras – porque quem vai querer ler um livro desse gênero escrito por uma mina, né? Mulher só escreve – e gosta de ler – livro melecoso romancento. Ha. Mas não foram só as iniciais que me chamaram a atenção, foi o jeito que ela escreve os relacionamentos e as personagens femininas. Só podia ser uma mulher.
Mas chega de conversa fiada e vamos ao livro.
Black Sun Rising tem uma pegada bem anos 80 na narrativa, e em muitos aspectos me lembrou muito a premissa de Dragonflight, que mistura fantasia com ficção científica.
Minha única crítica negativa é que o livro enlerda bem lá pelo meio e dá uma senhordosanéizada com todo mundo andando pra sempre e chove, faz calor, faz frio, montanha, floresta, planície e todo mundo continua andando. Mas como eu não me importo nem um pouco com isso, essa parte não atrapalhou o livro em nada. Mas aqueles que se entediam com facilidade podem precisar de um pouco de boa vontade pra passar essa parte.
No planeta Erna, a humanidade chegou com naves espaciais há algumas centenas de anos e se deparou com uma realidade bem diferente da Terra: apesar de ter atmosfera e vegetação e até mesmo animais semelhantes aos da Terra, Erna tem uma série de padrões energéticos que são manipuláveis tanto por humanos quanto pela própria natureza, tornando não só a evolução uma coisa muito mais rápida do que na Terra, como também dando aos humanos um poder semelhante ao da magia.
Essas correntes energéticas são chamadas de fae, e os humanos logo aprendem a adquirir poder através delas. Só que os fae são tão poderosos justamente porque respondem aos padrões de pensamento dos humanos – o que faz com que eles também respondam a padrões inconscientes da mente humana, e aí você vê monstros físicos, feitos de fae, que se manifestam diante do medo humano.
Nesse cenário, o medo dos humanos gera monstros de verdade. E a fé humana gera magia de verdade. E quando conhecemos o Reverendo Damien Vryce, vemos que a fé dele no Deus Único e nos escritos do Profeta faz com que ele seja capaz de curar uma pessoa apenas com um pouco de concentração e poder da mente.
Damien é enviado a Jaggonath, uma metrópole cheia de contradições: ao mesmo tempo em que abriga um enorme número de utilizadores de fae, e o maior número de sub-religiões com deuses pagãos, também possui a maior catedral dedicada ao Deus Único do mundo.
A missão de Damien é iniciar um grupo de jovens clérigos às artes “mágicas”, pois, apesar da magia ser proibida pela igreja, há aqueles que acreditam que ela possa ser importante. Mas se no início o livro parece que vai ser cheio de discussões sobre religião, moral e fé, a história logo toma um rumo diferente.
Monstros devoram parte da alma de Ciani, uma poderosa feiticeira/maga/adepta (faeborn, ou seja, que usa “magia” de forma inata, em vez de ter que aprendê-la como humanos normais) com quem Damien estava começando a ter um relacionamento. Ele e Zen, aprendiz de Ciani, descobrem que a única maneira de salvar Ciani é matar o monstro que a atacou. E para isso eles precisam cruzar um continente, o oceano do planeta, e entrar numa terra desconhecida onde os inimigos dos humanos vivem (e é essa viagem que pode ficar um pouco chatenha pros leitores de menor paciência).
Mas o que importa é que, quando Damien, Ciani e Zen saem pela estrada afora para perseguir demônios, eles trombam com adepto chamado Tarrant. E tudo fica maravilhoso a partir daí. Ciani é apagada – afinal, ela teve a alma e a personalidade roubadas e o que se pode esperar de um personagem assim. Zen é o típico aprendiz: meio infantil, meio bobo, mas sempre corajoso e sempre querendo ser útil.
O Reverendo é um personagem muito legal. A idéia de um padre/lutador/viajante (vulgo clérigo/guerreiro/ranger multi-class, para os nerds) é muito da hora e ainda por cima o cara é sarcástico, irritadiço e grosso. Meu tipo de personagem. Mas o mimimi dele com a Ciani deixam o cara meio sem graça, e ele logo se tornaria um líder-nato-vamos-por-ali-que-eu-protejo-vocês, se não fosse por Tarrant.
Tarrant, a princípio, parece um feiticeiro/adepto mega poderoso, aristocrático, bonito e bem vestido, em quem eles não confiam mas de quem eles precisam muito se forem tentar salvar a Ciani. Só que aos poucos Damien, e o leitor, vai descobrindo que ele é muito – MUITO – mais do que isso, e não é num sentido bom. Damien é obrigado a fazer escolhas bastante cinzentas para um cara acostumado a ver o mundo mais no preto-e-branco. Como ele pode confiar em alguém que causou tanto mal apenas para conseguir ter o poder que tem? E assim por diante. E ao mesmo tempo o próprio Tarrant é obrigado a não só aturar Damien e sua turma, como também ajudá-los e até mesmo colocar sua “vida” em risco por eles…
O livro decola a partir do momento em que Damien e Tarrant são colocados frente a frente, porque a reação deles um ao outro empresta um humor impagável à trama e deixa qualquer viagem chata divertidamente emocionante. O narrador até tenta um triângulo mixuruco dos dois com Ciani, mas isso felizmente ocupa pouco espaço na trama: entre Damien e Tarrant ficarem sem se matar, e derrotarem os demônios devoradores de almas, e escaparem dos alienígenas rakh, que odeiam os humanos com todas as forças, e descobrirem porque a nave dos colonizadores humanos decidiu ficar naquele planeta tão inóspito, e ainda por cima lidar com fae sombrias nas horas da noite em que o planeta fica totalmente às escuras, os aventureiros, e o leitor, têm bastante com o que se preocupar.
É bom, é bom quando você encontra um livro legal no meio de tanta besteira que tem por aí. E tenho mais um personagem ambíguo, sexy, malvado e perfeitamente adorável para minha lista dos favoritos, mesmo que Damien venha num segundo lugar bem próximo.
Se puderem, experimentem. Mal posso esperar para ler o próximo da série!
Black Sun Rising (1991) De C.S. Friedman (EUA)
Trilogia Coldfire Livro 1
Seja bem vinda de volta.Não conhecia este livro, mas gostei muito da sua resenha e já anotei o livro aqui para conhecê-lo melhor, parece que promete.Abraços e vou seguindo aqui.reaprendendoaartedaleitura.blogspot.com.br
Oi, Fernando!Obrigada pelo comentário.Espero que goste do livro quando conseguir ler.Abraços!