Maio 19, 2024
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Daí eu fui lá e li mais um romance adolescente. Eu sei. Eu SEI que eu não devia. Mas eu juro que peguei no aleatório e nem sabia do que se tratava! (ok, eu achei que fosse algo do tipo a versão livro do filme com o tema Beatles, sabe? enfim, eu estava errada. Me processem.) Ó, o lado bom é que o livro é impossível de largar. Não consegui parar de ler do momento em que peguei na mão. Ok que muitas vezes eu pulava alguns parágrafos (Amy dormindo = eu com sono e também as partes “”””românticas””””), mas em geral a ambientação que a autora criou é muito foda. O livro me lembrou muito um Cidade das Sombras piorado – porque adolescentes com muitos hormônios são receitas pra me deixar blé, mas, como eu falei, peguei o livro sem saber e depois não conseguia mais largar – com essa pegada claustrofóbica e fim-do-mundo e mistérios que não acabam mais.

Amy é filha de um casal ninja que vai ser congelado para a primeira viagem interplanetária da história. O pai militar e a mãe cientista especialista em genética mexeram os pauzinhos e conseguiram que Amy também pudesse ser congelada para a viagem de 300 anos na nave. Só que o sono criogênico não é uma grande dormida, como Amy estava esperando, mas sim uma sensação bastante perturbadora de estar acordada, cega e sem poder se mexer, por anos e anos e anos. Divertido pacas. Daí conhecemos Elder, um moleque de dezesseis anos que vai ser o novo líder da nave que está “prestes” a aterrizar no novo planeta (faltam cerca de trinta anos, pelo que me lembro). Ele está sendo treinado para ser líder pelo líder atual, um velho mandão que chamam de Eldest. A nave é dividida em vários níveis: os Feeders, que são basicamente fazendeiros, e o pessoal da engenharia/mecânica, os Shippers, e os Keepers, que mandam. E aí alguma coisa dá errado e Amy é acordada muito antes do previsto. Elder está lá para impedi-la de se afogar no líquido congelante, e Doc (o médico da nave) garante que ela não pode mais ser congelada porque se não pode morrer porque as células e blá. E é isso! Amy agora tem que viver o resto da vida na nave e isso já seria deprimente o suficiente se não fossem as coisas bizarras que acontecem por lá.

Os Feeders parecem pessoas retardadas, sem opinião própria, sem iniciativa e sem a menor vontade de questionar as coisas. Aos vinte anos, todos passam por uma espécie de “cio coletivo” e trepam pela nave inteira – menos os “loucos” no hospital, que não se sentem muito dispostos a isso e acham que são anormais (Elder é um dos loucos). Quando as pessoas ficam velhas e começam a confundir as coisas, são levadas para o misterioso quarto andar do hospital e de lá nunca mais voltam. As pessoas ou têm quarenta anos de idade, ou têm vinte anos de idade, ou têm sessenta e estão sendo levadas para o quarto andar. As únicas exceções são Eldest, que tem quase setenta, e Elder, que tem dezesseis. O mistério dessas diferenças de idade é aos poucos sendo explicado, assim como o comportamento estranhíssimo dos tripulantes da nave. Isto é, estranho para nós e para Amy, porque todos ali acham tudo muito normal.

E além disso tem algum psicopata descongelando as pessoas da missão e deixando-os para se afogar no líquido do congelamento. E o Eldest está preocupadíssimo com a presença de Amy, que ele considera uma distração para o treinamento de Elder e uma ameaça para a paz da nave. E por fim, Elder cada vez mais repara que as coisas não estão sendo contadas pra ele direito. Ele tem medo de ir contra a autoridade de Eldest, mas se ele não souber o que está acontecendo, como poderá ajudar a tribulação e ser um bom líder?

A ambientação eu achei muito legal. No começo, mal conseguia largar o livro. Os mistérios vão sendo colocados de forma a serem revelados aos pouquinhos, mantendo o leitor preso: quem descongelou Amy? Do que Eldest tem medo? Porque Elder tem que tomar remédios? Porque os Feeders são tão desmiolados? Quem está matando os congelados? O que causou a Peste? etc. A situação claustrofóbica e misteriosa, assim como os pequenos pontos jogados pela autora para deixar tudo ainda mais estranho (a história alterada, a falta de fotografias, os animais bizarros) fazem com que o livro tenha uma atmosfera perfeita.

Os protagonistas são chatos como sempre (com uma cereja no bolo que já comento). Não tenho paciência para adolescentes trágicos – será MESMO que todos são trágicos? Tenho minhas dúvidas. Mas nos livros parece que todos são. De qualquer forma o desenvolvimento do relacionamento deles vai indo bem, até que chega o final e é merda no ventilador de forma tensa.

Meus problemas com o final: (os caps é porque estou revoltada, perdoa)
Se o Orion estava na nave faz ANOS e com essa idéia maligna faz ANOS, porque resolveu matar o pessoal logo agora? Resposta (ruim): porque ele só teve a ideia de descongelar o pessoal por causa do Elder (já falo mais disso), aparentemente devido ao fato de que ele é um imbecil que não teve a mesma capacidade intelectual de um mirim de dezesseis anos. DAONDE meodeos DAONDE que ele tirou que ele ia ser escravizado pelos congelados? Isso não faz o menor sentido. E se o povo tinha tecnologia para criar uma nave do TAMANHO DE UMA ILHA e congelar um monte de gente, cadê a tecnologia para congelar TODO MUNDO, e o computador acorda o pessoal quando chegar na hora? SÉRIO que o governo enfiou três mil pessoas numa nave sem antes checar se o combustível era 100% renovável? “A nave está em piloto automático”. Ok, então me explica o motivo de ter TRÊS MIL tripulantes que precisam trabalhar nesse trambolho. Eu sei que isso parece culpar a vítima. Mas a Amy sempre insiste em fazer o que falam pra ela não fazer, né? “Não vai andar entre o pessoal porque eles são se dão bem com pessoas diferentes!” e ela vai lá fora e é quase morta por um dos imbecis. “Não vai lá fora porque tá todo mundo no cio!” e ela fala, ai, relaxa, vou ficar bem. E sai lá fora e é quase estuprada. Ela “precisa” correr porque era isso que ela fazia na Terra, mas depois de uma vez só já fica de boa e não fala mais nisso. E interrompe pessoas fazendo tarefas para dizer “nossa, você não pode mexer com hormônios! isso é perigoso!” – eu sei que a cena era pra mostrar que os Feeders são incapazes de pensamento individual, mas fala sério. A menina interrompe uma mulher ADULTA fazendo seu trabalho, pra encher o saco e dizer que “você não sabe o que está fazendo!”. Pirralha insolente, vai achar alguma coisa pra fazer!

E aí, finalmente, para a cereja no bolo + merda no ventilador:
o prêmio de assassino / descongelador de pessoas / punheteiro perturbado do ANO vai para: o par romântico de Amy, o fofucho Elder. Eu juro que gostaria de saber onde que as autoras enfiam a cabeça na hora de criar romances fofos para a faixa etária que já é naturalmente perturbada sem precisar de mídias externas pra piorar. Vamos revisar? Vamos. O Orion tá lá, causando, acabou de matar o velho, e até falou que “vai pensar” se vai deixar as pessoas congeladas viverem. E quando a Amy começa a protestar (“meu pai mimimi”), o Orion dá risada e diz que teve a ideia de descongelar as pessoas por causa do Elder! “Quer que eu conte pra ela o que você fez, Elder? Há Há!”. E o Elder SUPER NORMAL enfia o Orion numa cabine congeladora e mata o cara afogado. Gente tranquila, gente normal, gente ROMÂNTICA. E como o Elder é narrador, ficamos sabendo que ele até acha que pode ter feito a coisa sensata ao matar o Orion – ok, eu também acho que a teoria dele de “seremos todos escravizados” é meio paranoica, mas não o suficiente pra afogar o cara – mas que ele (Elder) tem dúvidas se não matou o Orion para que este não revelasse a verdade. 

E a verdade é que Elder foi o descongelador de Amy. Porque ele se apaixonou por ela (se apaixonou por uma garota pelada congelada num esquife de vidro quase igual a Branca de Neve, gente, VEJEM BEM) e queria viver o tal do cio com ela (ROMÂNTICO) e não sabia que ela não poderia ser congelada de volta (tipo, queria te comer e te botar pra dormir de volta né há há) e nossa como ele se sente mal com isso gente. E o livro termina com ele contando isso pra ela, o que já não faz o menor sentido DE NOVO porque ele total matou o Orion por causa desse segredo – e mesmo que não fosse. Mesmo que ele tenha matado o Orion pra proteger o pai dela. Sério mesmo que esse é o mocinho? Matando pessoas #porque eu quis? Justo. E aí ela perdoa ele, porque pelo menos ele contou a verdade, e ela não quer ficar sozinha no espaço.
Fim.

Tem tantas coisas TANTAS COISAS erradas nisso que eu nem sei como, sabe. Gente fala sério ele ficar indo ver a menina congelada e pensando em como seria se ele pudesse ver os peitos dela através do gelo é muita perversão!! E aí ele acorda ela e ela nunca mais vai ver a própria família por causa desse infeliz e ela resolve ficar com ele???

Mas ó. A ambientação é muito boa. A história é bem construída. Eu até fiquei com vontade de ler o próximo. Mas o romance, e esse final? Fica difícil demais! Pra quem gosta de romances adolescentes e não se importa nem com erros científicos nem com romances PERTURBADORES tipo Crepúsculo, é uma boa pedida, eu acho.

PS só eu que acho que esse livro foi inspiração para aquele Passageiros lá com a Jennifer Lawrence? Ou tem muitas outras histórias em que o cara descongela a menina e destrói a vida dela pq ela é linda e ele quer transar viver pra sempre com ela?

Across the Universe 2011 de Beth Revis – Trilogia Across the Universe Livro 1

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