Dezembro 3, 2024
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Qualquer um que mate o Coronel Potheroe vai estar fazendo um favor pra todo mundo.

Com essa frase pouco eclesiástica, o pastor de St. Mary Mead desabafa chegando em casa, depois de ter sido praticamente acusado pelo dito coronel de ter mexido no valor das doações da igreja. Griselda, a jovem e energética esposa do pastor, e Dennis, o sobrinho de 16 anos, adicionam na conversa que o velho é insuportável, que sua primeira esposa fugiu com outro, que sua atual esposa o detesta, e que sua filha só quer saber de ir embora de casa.

Mas Dennis faz a melhor observação: “quando acharem o velho assassinado, Mary vai dar testemunho sobre você ter falado isso, e ainda vai descrever como você brandiu a faca da carne ferozmente.” – Mary sendo a criada da casa do pastor, que não sabe cozinhar nem faz nada direito mas que Griselda não quer ensinar se não ela vai embora pegar salário melhor.

Com mais esse início excelente, estamos dentro de outro dos melhores romances policiais de Agatha Christie, com narrativa em primeira pessoa do pastor de meia idade, investigação de Miss Marple e uma infinidade de personagens coadjuvantes maravilhosos.

 

Esse é um livro que eu gosto muito, principalmente porque o narrador é o Sr. Clemens, o pastor de St. Mary Mead (a cidadezinha pacata no interior da Inglaterra que parece sempre ser o local de algum crime horroroso). O senso de humor do narrador permeia toda a narrativa, e o ponto de vista também ajuda: como vemos toda a história através dos olhos do pastor, é ainda mais difícil tentar adivinhar quem matou. Além disso, uma das melhores personagens do livro é Griselda, a jovem e inadequada esposa do pastor. Também amo porque é o primeiro livro que tem como detetive a senhora intrometida, fofoqueira e simpática Miss Marple.

Logo no início da história somos apresentados ao terrível Coronel Potheroe, um velho chato, implicante, mal educado, preconceituoso e, ainda por cima, surdo. Aí ele morre. Quer dizer, é morto com um tiro, justo quando ele estava no escritório do pastor esperando pra vê-lo sobre um assunto complicado na igreja – alguém está roubando o dinheiro das doações. A idéia original do inspetor de polícia é que o crime tenha acontecido por volta das 18h20 por causa do relógio quebrado no chão – jogado quando o morto caiu sobre a escrivaninha – o que concorda com o que diz o médico legista e também por causa da cartinha que o coronel estava escrevendo quando morreu, datada 18h20 e dizendo que ele não podia mais esperar pelo pastor e ia embora. 


Mas  Miss Marple aponta que é bem estranho o coronel ter escrito, às 18h20, que não podia mais esperar, sendo que a empregada do pastor havia avisado que o patrão ia se atrasar e chegaria só as 18h30 e o coronel havia concordado em esperá-lo. E o pastor logo comenta que o relógio quebrado era sempre mantido 15 minutos atrasado, fazendo assim com que a morte tivesse ocorrido perto das seis e meia…

E quando tanto a jovem esposa do coronel quanto o bonitão pintor que estava tendo um caso com ela confessam o crime de forma bastante inverossímil, o pastor e sua esposa se vêm cada vez mais indo conversar com Miss Marple, a senhora mais fofoqueira da aldeia, para ver o que ela acha daquilo tudo.

Afinal, além da esposa e do amante, outros suspeitos se apresentam: a filha do coronel herdou toda a fortuna, o professor de arqueologia que estava escavando na propriedade do coronel não é o que parece, a secretária bonitona do professor estará do lado dele ou em conluio com o coronel? E o ajudante do pastor, que é um homem muito nervoso que insiste na culpa de Archer – que também teria ótimos motivos para matar o coronel, já que havia sido preso por testemunho deste… e a senhora bonita e solitária que se mudou recentemente para a aldeia e ninguém sabe da onde veio… e o Dr. Haydock, que insiste em dizer que às vezes assassinato é justificável…

Miss Marple usa seu amor pelas flores e pelos pássaros para saber tudo o que acontece na aldeia (ela se agacha no jardim quando passa alguém conversando e que ela não quer que saiba que ela está por perto e usa seu binóculo de olhar pássaros pra ver as pessoas de longe) e logo faz deduções excelentes para descobrir quem foi o assassino.
 

Um livro bonitinho, bem típico dessa fase da Gata (a do “entre-guerras”, que é a que eu mais gosto). Pra quem gosta dos policiais e gosta da Gata, é uma bela aquisição.

The Murder At the Vicarage (1930)
de Agatha Christie (Reino Unido)

3 thoughts on “Assassinato na Casa do Pastor | Agatha Christie

  1. Olá,Quando vi Rex Stout me lembrei que tenho vários na fila, mas, na sequência você colocou a postagem sobre Agatha Christie, o que me deu uma tremenda vontade de reler!!Um Feliz 2010 para você, cheio de realizações e boas férias. Estarei aguardando a sua volta ao blog!!Um abraço

  2. Os livros de Agatha Christie são muito bons de ler e todos os contos, por assim dizer, prendem o leitor. Leio a série Sherloch Holmes, que também é boa, mas a Agatha tem livros melhores, na minha opinião. Ambos devem ser lidos por aqueles fanáticos em romances policiais e devem compor aqueles de cabiceira. Não recomendo ler tudo de uma vez, leia um pouco por noite, vale a pena!!

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