Novembro 21, 2024
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No ano de 1138 começa a guerra civil entre dois primos que brigam pelo trono inglês. De um lado, a imperatriz Maude, filha do velho rei e escolhida por ele para ser a próxima a governar porém casada com um normando e ainda por cima uma mulher. Do outro lado, o rei Stephen, sobrinho do velho governante, um homem simpático e audacioso que consegue, com um golpe de estado bastante inteligente, pegar a coroa para si enquanto Maude está de férias na Normandia.

O que o rei Stephen não esperava é que alguns dos nobres que juraram ter mudado de lado – para o dele – e ser contra a imperatriz mudaram de idéia de novo assim que ele virou as costas, e formaram um exército dos mais eficazes para defender sua soberana.
O rei Stephen fica morrendo de raiva, claro, e ataca a cidade e o castelo de Shrewsbury, onde dois de seus maiores inimigos estão.

Quando o castelo é tomado, o rei finalmente escuta seus conselheiros, que dizem que o principal motivo pelo qual seus homens o deserdaram é que achavam que ele era mole demais, e resolve enforcar todos os sobreviventes para dar um exemplo àqueles que ousavam pensar em trocar de lado de novo.
Noventa e quatro pessoas são enforcadas pelos flamengos mercenários durante um dia inteiro e parte de uma noite.
O Abade Heribert, líder da Igreja de São Pedro e São Paulo em Shrewsbury, apesar de ter demorado a aceitar o novo rei, não tem medo do seu soberano, e pede que os corpos sejam pelos menos enterrados de forma cristã. O rei não recusa, e é o Irmão Cadfael o escolhido para liderar esta tarefa, já que viveu por muitos anos como marinheiro e cruzado na Terra Santa antes de virar monge e certamente não se importará de remexer nos mortos para dar algum conforto àquelas almas.

De fato, Cadfael não se importa com a tarefa inglória, apesar de lamentar tantas mortes em vão.
Ele se importa é com o nonagézimo quinto morto que encontra entre os cadáveres: um jovem que morreu enforcado não com a corda dos carrascos mercenários, mas com uma linha de pesca. E que não teve as mãos amarradas durante a execução, mas que tem sangue seco embaixo das unhas, mostrando que ele lutou antes de morrer.
Um homem assassinado, cujo corpo foi jogado ao lado das muradas do castelo para camuflar sua morte não autorizada por rei nenhum.

Enquanto isso, o rei Stephen luta para encontrar seus dois maiores inimigos, que conseguiram fugir depois que o castelo foi tomado; e a cidade ainda não está tranquila, pois o rei e seus exércitos certamente a esvaziarão de qualquer montaria ou comida para que possam seguir viagem na campanha do rei pela Inglaterra.

Como se o morto a mais não fosse suficiente para encher sua cabeça, o Irmão Cadfael recebe um novo ajudante em seu jardim – um ajudante que ele logo percebe não ser um rapaz, mas uma moça que está se escondendo dos homens do rei: ela, quando desmascarada pelo interessado e protetor monge, admite ser Godith Adeney, a filha de um dos inimigos do rei que conseguiu fugir do castelo durante a batalha.
Ela sabe que está sendo procurada não apenas pelos soldados do rei como também pelo jovem Hugh Beringar, seu noivo prometido, que jurou lealdade a Stephen e provavelmente está atrás dela para usá-la como forma de ganhar o favor Real.

Cadfael não toma partido na guerra, mas certamente está do lado da moça que pede sua ajuda. Ele, portanto, tem de ajudar Godith a escapar de Shrewsbury, descobrir quem é o jovem que foi assassinado, descobrir quem é o assassino, impedir Hugh Beringar, que é um rapaz deveras inteligente e mais do que apto a competir com a esperteza do próprio Cadfael, de botar as mãos em sua noiva prometida, e, não menos importante, convencer o xerife do rei de que de fato ocorreu um assassinato, e é dever da coroa resolvê-lo.
Tudo isso sem deixar de perder as missas e as orações da sua ordem monástica.

Nesse segundo livro da série com o monge-detetive Irmão Cadfael, as coisas não deixam de ficar menos movimentadas. A ação se passa toda em Shrewsbury, em uma época histórica que me interessa muitíssimo. A guerra civil entre Stephen e Maude durou anos e foi um desastre para o país, e a autora, ela mesma uma historiadora, faz um trabalho excelente de inserir seu mistério dentro da narrativa histórica.
É fato que Stephen teria mantido a coroa em suas mãos já de cara se não fosse de tão boa índole: seus inimigos logo aprenderam que ele não ficava bravo por muito tempo e logo desistiria de vingança não importanto a seriedade da ofensa. Já Maude era justamente o contrário: irritadiça e dada a passar sentenças violentas demais, tinha à sua volta homens em que ela certamente confiava, mas que não eram o ideal de nobreza que o povo inglês desejava.
Esse livro também é interessante pra mim, que li a série na ordem errada, já que introduz um dos personagens mais presentes nos outros livros: Hugh Beringar, que aqui é objeto de suspeita de Cadfael quando este descobre o que está por trás da morte do misterioso cadáver a mais.

Um excelente romance policial com um background histórico dos mais convincentes, este livro certamente agradará os fãs do gênero.

One Corpse Too Many (1979) de Ellis Peters. Série Crônicas do Irmão Cadfael Livro 2

Leia também:

Minha resenha do livro 1. 

Minha resenha do livro 3.

1 thought on “Um Corpo A Mais | Ellis Peters

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