Bom, eu adoro coisas relacionadas a sereias, então quando eu vi esse livro sendo comentado em outros blogues, não pude resistir.
Vanessa é uma garota de 17 anos que é insegura e medrosa. Sua maior amiga e companheira – e também quem a apóia e ajuda com seus medos – é sua irmã mais velha Justine, que é seu oposto: Justine é corajosa, aventureira, cheia de namorados e muito bonita.
E aí uma noite Justine briga com a mãe e com a Vanessa, pula de um penhasco que dá para o mar, na casa de praia delas – um penhasco de onde sempre pulava, mas de dia – e morre afogada.
Vanessa começa a ouvir a voz de Justine. Sem saber se isso é real ou não, e morrendo de medo de tudo, Vanessa descobre que a irmã não iria para a faculdade: apesar de andar com a camiseta da faculdade, de ter dito para a família que estava tudo resolvido, tudo pago e tudo combinado, Vanessa descobre que Justine sequer prestou o exame de admissão.
Corroída pelo sentimento de que Justine não havia sido honesta com ela, e sem entender por quea irmã havia pulado do penhasco no meio da noite, Vanessa volta até a casa na praia procurando respostas, mas só encontra mais perguntas: o namoradinho de verão de Justine, Caleb, que morava na praia e havia crescido com as meninas, desapareceu. Simon, o irmão mais velho, concorda em ajudar Vanessa a entender o que aconteceu com Justine se Vanessa ajudá-lo a encontrar Caleb.
Vanessa fica fugindo da mãe, que é uma chata, arranja uma amiga nova no restaurante local mas tem inexplicáveis dores de cabeça lancinantes quando a irmã da amiga, uma gostosona maligna, chega perto dela.
Ao longo da narrativa vamos descobrindo aos poucos o mistério da morte de Justine e características bastante estranhas na própria Vanessa.
No começo do livro, gostei da Vanessa, uma personagem realista cheia de inseguranças e passando por um momento crítico com a morte da irmã.
A narrativa pouco tradicional me deixou curiosa no início; ao não narrar os eventos de forma cronológica e ao não explicar as coisas conforme elas aconteciam, o suspense foi aumentando ao longo da leitura.
A narradora é Vanessa, então em vez dela explicar as razões para suas ações, o leitor só descobre quando a Vanessa conta os problemas para outro personagem.
Nesse ponto eu achei que a nova amiga dela, garçonete do restaurante Betty’s, serviu mais como ouvinte dos problemas de Vanessa para que o leitor os soubesse do que como uma personagem real.
Mas até aí, o livro estava com uma pegada legal: as dúvidas de Vanessa estavam todas listadas, esperando ser respondidas; o romance com Simon estava desenvolvendo bem; a amizade com Paige, a garçonete feliz, transformou Vanessa numa pessoa mais normal, tentando achar sentido na vida após a perda de alguém querido; a família de Paige – sua irmã maligna, sua avó paranormal e sua mãe sobrenaturalmente bonita – trouxe mistério à trama e as mortes por afogamento e as estranhas tempestades ocorrendo na pacata cidade de veraneio me fizeram ficar grudada no livro, esperando pelas respostas.
Que são muito, mas muito insatisfatórias.
Muito pouco é explicado, na verdade. Como e por quê Betty perdeu a visão? De onde ela estava fugindo quando abriu o restaurante em Winter Harbor? Qual a real natureza das tais sereias? Por quê elas fazem o que fazem? Como a foto da mãe de Vanessa surgiu no diário? Por quê as sereias precisavam criar tempestades?
Eu acho OK a autora ter colocado as sereias míticas gregas – que não têm rabo de peixe: são donzelas nuas que, com seu canto e sua beleza, atraem os homens para as profundezas do oceano. O problema foi não explicar melhor a natureza delas.
Isso causa uma ruptura no universo secundário, já que a razão de todo o mistério são as sereias e as sereias não estão explicadas. Além disso, o trio de protagonistas (Vanessa, Simon e Caleb) parece aceitar o fato de que sereias existem com uma naturalidade forçada, o que deixa a trama ainda mais inverossímil.
Quando existe um elemento sobrenatural na trama, o autor precisa explicar como ele funciona. Não precisa explicar desde o começo, mas deixar para explicar as coisas no próximo volume da série também não dá. Qualquer livro tem que ser auto suficiente.
Especialmente porque quando se coloca uma trama minimamente policial no meio, não tem graça nenhuma descobrir que o assassino fez o que fez “porque ele é assim”.
Até porque, se é da natureza das tais sereias assassinar os homens que as amam, não tinha necessidade de explicar que a filha da Betty tinha começado a fazer isso por ter tido o coração partido, já que no final tem umas quinze sereias matando gente. Todas elas tiveram o coração partido?
A autora menciona qualquer coisa sobre as sereias precisarem nadar no mar para viver. Isso é uma informação importante. Isso é uma característica das sereias.
Mas a autora não deixa claro se matar homens é necessário pra elas ou não, o que deixa toda a trama grandiosa delas de destruirem todos os homens da cidade totalmente sem sentido.
E tudo isso poderia ser descartado como “ah, ok, a trama de suspense não foi bem fechada, mas pelo menos os personagens são bons”.
Só que aí vem a grande revelação sobre Vanessa e Justine: Vanessa, apesar de sempre ter sentido medo de tudo, e sempre ter se sentido solitária e menos legal, menos bonita e menos popular do que sua irmã Justine, descobre com grande surpresa que Justine era a insegura.
Justine tinha vários namorados porque “todo mundo” achava Vanessa mais bonita e ela queria se sentir mais bonita do que a irmã; Justine se arriscava em esportes radicais para chamar mais atenção do que Vanessa, etc.
E isso não simplesmente não colou comigo. Não dá pra você ser considerada a mais bonita por todos e não saber disso. As pessoas elogiam, você vê fotos, a própria irmã poderia ter falado alguma coisa.
Como é possível que Vanessa não tivesse uma única amiga durante todo o colegial, que falasse pra ela que os caras estavam interessados?
Ok que a autora quis aumentar a ligação entre as duas irmãs, mas ficou chato – ficou chato porque todo o relacionamento das irmãs ficou superficial e forçado: Justine era popular porque ela se esforçava para sê-lo, e Vanessa se achava feia porque era tímida. Pronto.
Mas dá pra perceber que a autora é simplista quando Vanessa descobre que é adotada pela mãe e fala que “agora tudo faz sentido” porque a mãe sempre gostou de comprar roupas e ela não (!).
Então é isso: o livro tem um excelente primeiro ato, com a construção dos personagens e dos mistérios. Tem um segundo ato cheio de ação e aventura, mesmo que um pouco forçado, com Vanessa, Simon e Caleb tentando descobrir o que as sereias vão fazer antes que tudo ocorra. Mas o terceiro ato coloca tudo a perder quando tanto os personagens quanto a trama vão por água abaixo por uma incapacidade da autora de fechar as pontas soltas.
Acho que o livro não teria me irritado tanto se não fosse tão bom no começo.
Mas claro que vou ler o segundo volume, vai que melhora…
Siren (2010) de Tricia Rayburn. Série Siren Livro 1