Novembro 23, 2024
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Vou falar de duas variantes dessa história – a variante do “sal”, presente em várias tradições como Inglaterra, Alemanha, Itália e Índia, e a variante do “incesto”, cuja versão mais famosa é a de Perrault. Em ambas as variantes, a princesa sai de casa com apenas uma roupa de pouca qualidade (feita de pele de bichos ou tecida com plantas) mais alguns vestidos maravilhosos.
Aí ela começa a trabalhar de lavadeira num reino distante e, quando o príncipe faz um baile, ela coloca primeiro o vestido prateado como a lua e encanta o príncipe. Depois ela some. Na segunda noite ela coloca o vestido dourado como o sol, e novamente encanta o príncipe, que só dança com ela. E na terceira noite ela usa o vestido brilhante como as estrelas, e o príncipe definitivamente se apaixona.

Depois as versões variam sobre como o príncipe descobre que a sua amada é na verdade a lavadeira, mas em geral acontece que o príncipe fica doente e ela faz uma sopa que o cura, e deixa cair primeiro um pente de ouro, e na segunda noite um fuso de ouro e na terceira noite seu anelzinho de ouro, e quando o príncipe vai pedir pra saber quem fez a sopa milagrosa, ele agarra a garota e coloca o anelzinho no dedo dela, e descobre então que não só ela é a bonitona do baile como também salvou sua vida, e os dois casam e vivem
felizes pra sempre.

O que muda entre as duas versões é o motivo pra moça sair de casa. Em Capote de Junco, o rei vai viajar e
pergunta pras três filhas o quanto elas o amam. A mais velha diz que o ama mais do que todos os seus vestidos. A segunda diz que o ama mais do que todas as suas jóias. Mas a terceira diz que ela o ama tanto, que viver sem ele seria como comer comida sem sal. Enfurecido por essa aparente falta de amor da filha, o rei decide deserdá-la e dividir o reino entre as duas mais velhas. A princesa mais nova então vai embora, levando apenas os três vestidos acima mencionados, e tece um capote do junco que nasce nas margens do fosso do castelo.

Quando o rei vai visitar suas filhas mais velhas em suas metades do reino, a primeira diz que não pode receber toda a corte do reis, apenas ele e os seus cavaleiros. Enfurecido, ele vai até o castelo da segunda, que diz que não há lugar nem para os cavaleiros, apenas para ele.

Ele manda as duas às favas, mas não tem onde ficar. Os cavaleiros se dispersam e ele passa a viver sozinho na floresta de um reino vizinho. Depois de alguns anos, ele vai ficando cego.
Sua filha mais nova, que trabalha de lavadeira no palácio do rei, o encontra e fica compadecida da situação dele, ajudando-o com tarefas domésticas mas sem revelar sua identidade.
Quando o príncipe descobre que ela é a bonitona e resolve se casar com ela, ela faz questão de convidar seu velho pai, novamente sem dizer ser sua filha. E ela pede que todos os pratos no banquete de casamento sejam feitos sem sal.

Após provar a primeira colherada do prato intragável, o velho rei começa a chorar, e quando indagado, revela que toda a história da filha e da comida sem sal e que ela era a que mais o amava, e que ele se arrependia muito.
Nesse momento a princesa se revela e todos vivem felizes pra sempre.

A versão de Perrault, Pele de Bicho ou Pele de Asno, tem um início um pouco mais perturbador.
A rainha é a mulher mais bela do mundo, e quando ela morre ela faz o marido jurar no seu leito de morte que ele só se casará com uma mulher tão bonita ou mais bela do que ela.
A filha deles, a princesa, cresce e vai ficando cada vez mais bonita, e o pai dela percebe que ela é ainda mais bonita do que a mãe, e decide se casar com ela. Horrorizada, a princesa tenta dissuadi-lo da idéia, mas ele é inflexível: precisa honrar o juramento feito à falecida esposa.

Então, para ganhar tempo, a princesa diz que só vais e casar quando tiver seus desejos realizados, e pede primeiro um vestido prateado como a lua, mas o rei consegue contratar os melhores costureiros e entregar o vestido a ela. Depois ela pede um vestido dourado como o sol etc, e como um último ato desesperado, ela pede um pedaço de pele de cada animal existente no mundo. O pai dela manda seus caçadores trazerem as peles, e a princesa tece um manto com elas e, em segredo, foge do castelo, levando apenas os tais vestidos maravilhosos e em algumas versões o fuso, o anel e o pente de ouro. Na rua, as pessoas que a vêem a chama de “pele de bicho” e acham que ela é um animal meio estúpido.

Em outra versão, a princesa se veste com a pele de um asno para fugir do pai.
E ela chega em um reino distante e é empregada como ajudante de cozinha.
O resto é história.

Eu gosto desse conto porque em ambos os casos a princesa não tem medo de fazer o que ela quer, toma o seu destino em suas próprias mãos e ainda conquista o príncipe mesmo sendo lavadeira.

2 thoughts on “Pele de Bicho | Conto de Fadas

  1. Olha só,Li esse livro na segunda série, numa versão bem ilustrada.Essa estória sempre ficava na minha cabeça e eu sempre pensava: vou entrar na net e pesquisar sobre a capote de junco.Pois hoje, com 34 anos, eu não sei por que, lembre de pesquisar e caí aqui no teu blog!Um Abração ^^

  2. Capote de Junco, esse livro marcou minha infância,nunca esqueci essa estória, venho procurando na Internet há tempos, mas sempre foi muito difícil achar algo sobre ele, encontrei aqui e no setor de esgotados da Livraria Cultura. Obrigada por postar, muito bom.

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