Uma senhora rica e influente fica bastante irritada quando descobre que o FBI anda bisbilhotando a vida de todo mundo e se livrando de desafetos de forma menos do que honesta. Ela leu um livro sobre o assunto e resolve enviá-lo para todos os seus conhecidos (a maior parte deles fica desagradavelmente surpreso e tenta se distanciar dela o mais rápido possível).
Só que agora o FBI está seguindo a senhora por onde quer que ela vá – e ela então quer contratar Nero Wolfe para “fazer eles pararem”.
A impossibilidade de tal tarefa faria qualquer ser humano menos notável recusar a proposta, mas Nero Wolfe está longe de ser um qualquer. Ele fica tentado tanto pelo valor astronômico que a mulher oferece como também pelo seu orgulho, afinal, segundo ela, ele é o único capaz de um feito dessa proporção.
Archie Goodwin, o auxiliar faz-tudo de Wolfe, tem certeza de que seu chefe ficou é doido e se prepara para pedir demissão em vez de viver uma vida enjaulada com medo de grampos telefônicos, agentes seguindo-o por toda parte e ter o próprio governo trabalhando para destruí-lo.
Wolfe faz o possível e o impossível para conseguir seu intuito: colocar o FBI numa enrascada para que ele possa pedir educadamente que eles deixem sua cliente em paz.
A parte mais interessante do livro é ser contemporâneo ao FBI de J. Edgar Hoover, que foi notório por ter pouco apreço a liberdades individuais. Na época da sua publicação, o livro causou controvérsia por descrever um FBI dos menos agradáveis, numa época em que a opinião pública estava dividida pois o FBI parecia estar direcionando seus esforços menos à proteção do povo americano e mais aos avanços políticos de seus agentes. O livro que inicia todo o problema, e que a senhora rica distribui aos seus coleguinhas, foi de fato publicado em 1964 por um jornalista que desencavou vários segredos cabulosos sobre o Bureau.
Apesar de ser acusado de partidário e parcial por alguns críticos, Rex Stout não deu a mínima e disse que o livro sobre o FBI havia apenas lhe dado uma ideia para um novo grupo de antagonistas aos seus detetives heróis. O FBI não achou a coisa toda tão engraçada, e o autor foi considerado pessoa ‘não recomendável’ pelos seus agentes.
Como se esse ‘making-of’ já não fosse interessante o suficiente, o livro em si é muito divertido, com Nero Wolfe inventando altos planos para frustrar o FBI – e com uma participação especial de Cramer, que, como em The Silent Speaker, sabe ser legal quando quer.
The Doorbell Rang (1965) de Rex Stout. Série Nero Wolfe Livro 41.