Romance histórico fofo com cenas picantes e coadjuvantes coloridos e fora do comum, esse primeiro livro da série dos Príncipes é interessante e divertido.
Na Inglaterra do século XVIII, A viúva Anna Wren não está numa situação boa. Seu falecido marido deixou-a em apuros financeiros, seu falecido pai a ensinou habilidades pouco necessárias a uma dama da sociedade e existem poucas possiblidades profissionais que a façam manter a respeitabilidade.
Em sua enorme e sombria mansão, Edward de Raaf, o conde de Swartingham, está precisando de um secretário que seja capaz de aguentar seu humor explosivo, e o administrador da propriedade, sem opções, aceita a sugestão de Anna de se tornar secretária do conde.
Apesar de imediatamente se interessar pela pequena viúva, Edward tem certeza de que nada pode fazer a respeito, pois ela é uma dama e isso não é apropriado. Anna, por outro lado, também se sente imediatamente atraída pelo conde, mas sabe que nunca poderá estar com ele por serem de círculos tão distintos da sociedade.
Apesar da capa lindinha (a capa estrangeira é mais óbvia) e do começo que encaminha o livro para um romance de época dos mais açucarados, não se enganem: o livro é um erótico estilo Julia Quinn pra ninguém botar defeito. Logo nos primeiros encontros do conde com sua secretária já dá pra ver por onde o livro está indo, pois a forma como ele pensa na moça é muito pouco honrada – na verdade foi engraçado quando eu estava lendo, acabei me surpreendendo com as palavras pouco delicadas que a narrativa de repente começa a usar.
Acontece que Anna é uma secretária intrometida, e encontra um folheto de um prostíbulo da alta classe entre as coisas do conde. Ela de início fica triste por imaginar que ele vá se entregar aos prazeres da carne com uma profissional e depois com raiva ao lembrar que a sociedade lhe nega essa possibilidade por ser mulher. Sua obsessão com o conde chega a tal ponto que, quando Edward informa que vai a Londres (na verdade ele quer só se aliviar de toda a tensão que tem por estar constantemente diante da moça), Anna decide ir atrás e se disfarçar de prostituta. Para passar uma noite com ele.
Enquanto Anna e Edward se divertem com esse jogo idiota ajudados por duas prostitutas de bom coração, ficamos sabendo de um impeditivo maior para o amor do casal: Edward quer muito uma família, e Anna não pode ter filhos. Do outro lado, a mulher mais rica da cidade onde vivem resolve tentar chantageá-los para se proteger de suas próprias indiscrições anos antes com o falecido marido de Anna.
Eu achei muito interessante a forma como a autora introduziu uma trama bastante sórdida – relações clandestinas, sexo mascarado, frequentadores de prostíbulos de alto nível – sem nunca deixar de lado a trama de amor perfeito monogâmico. Quando Anna chega no tal rolê chique e vê todos aqueles homens, decide imediatamente que seria incapaz de se deitar com algum deles sem ser Edward, pois “é mulher e não consegue separar as coisas”. Daí fica sentida quando o conde, achando que ela é uma prostituta, se recusa a beijar na boca dela. Por outro lado, Edward, por mais que tente esquecer a moça indo se divertir com outra, é incapaz disso e não tira ela da cabeça por que está “obcecado” por Anna.
Pelo fato de o livro demorar pra engatar, já que a narrativa preza pela ambientação, a trama acaba tomando velocidade e as coisas se resolvem de forma satisfatória sem nenhuma daquelas enrolações típicas desses romances, quando existe um motivo idiota pra eles não ficarem juntos e daí ninguém consegue falar um com o outro pelas razões mais estúpidas e nada se resolve: aqui não, é todo mundo sincerão e já fala tudo na cara. Isso é bom porque dá espaço para coadjuvantes muito divertidos e pouco convencionais – e porque, claro, me irritou menos. A caracterização dos protagonistas, apesar do clichê ricaço-grosso-e-empregada-que-enfrenta, tem um quê de novidade: Anna não é bonita e Edward é definitivamente feio, com cicatrizes de varíola por todo o corpo que o deixam devidamente traumatizado e explicam seu temperamento. É certamente interessante ler isso depois de tantas moças de proporções perfeitas e homens de pele incrível – se bem que o conde é devidamente alto, isso não se pode negar.
Achei um livro divertido e bonitinho, mas se você tem pouco interesse nas cenas picantes eu sugiro cautela. Recomendo como um bom passa tempo.
PS – o nome do livro é inspirado por um conto de fadas muito bonito que aparece em partes no início de cada capítulo e tem um significado especial para os protagonistas.
The Raven Prince (2006) de Elizabeth Hoyt. Série Princes Livro 1