De vez em quando eu me meto a ler coisas que saem do meu lugar comum, e geralmente me arrependo. No caso desse livro, ele é tão curto que mais parece um conto, e não deu nem tempo de parar pra pensar muito durante a leitura. Sentei e li.
São menos de 70 páginas de um stream of consciousness de um homem perdido numa floresta na neve à noite. Durante esses momentos, ele se depara com uma entidade totalmente branca e brilhante, e a partir daí começam a aparecer elementos mais surreais.
Da contra capa: “Neste breve romance em que a atmosfera onírica se mescla à transcendência, um homem começa a dirigir sem rumo e, desconhecendo as próprias motivações, conduz seu carro até uma floresta. Logo escurece e começa a nevar. Obedecendo à lógica trágica e misteriosa que opera nos pesadelos — ou no encontro inescapável com o destino —, em vez de procurar ajuda, ele decide se aventurar pela mata escura, onde se depara com um ser de brancura reluzente.”
É o tipo de coisa que já começa me irritando porque não faço ideia do que seria uma atmosfera onírica. No entanto, me identifiquei com o narrador primeiro pela forma como ele organiza suas ideias e segundo pelo seu pessimismo galopante, que impede que ele consiga ficar mais de alguns instantes em uma situação sem pensar em como outra situação seria melhor, além de pensar em como qualquer das opções que ele vá tomar vai só dar errado.
O livro pode ser entendido de várias formas, e eu escolhi seguir da seguinte – a viagem e as experiências dele durante o livro são um espelho da vida dele, solitária, pessimista, imediatista e sem objetivos. A aparição dos pais é ao mesmo tempo uma tentativa de volta à realidade e ao mesmo tempo uma explicação e justificativa para a forma como ele enxerga o mundo, enquanto mostra ele repetindo padrões delimitados pelos pais.
A brancura pode ser uma divindade, ele mesmo fala em anjos, ou pode ser a luz no fim do túnel da vida dele já que ele se enfiou no meio do mato à noite na neve; ou ainda pode ser o momento que ele percebe que precisa sair da existência preta e cinza em que ele se encontra. No caso me sinto numa prova de literatura da faculdade e não é pra isso que eu leio. Eu leio pra escapar da vida, não pra pensar nela.
Eu percebo a genialidade do autor, percebo a atmosfera de depressão da história que deu toda uma nova perspectiva pra mim, percebo a qualidade da escrita e não estou aqui para criticar o prêmio Nobel de literatura. Mas simplesmente não é meu tipo de entretenimento.
Brancura (Kvitleik) 2023 de Jon Fosse