Dezembro 3, 2024
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O livro é um daqueles que eu não li nada a respeito, nem a orelha, antes de ler. E achava que era mais um chick-lit por algum comentário em blogs relacionados.

Mas acontece que no fim das contas a autora tende a escrever coisas mais sérias, tipo Em Seu Lugar (aquele que deu origem ao filme muito o máximo com a Shirley McLaine, Cameron Diaz e a outra que também fez About A Boy), que eu quero muito ler.

A história é a seguinte: Cannie é uma jornalista engraçada e independente [e gordinha] que surta ao saber que seu ex escreveu numa coluna de uma revista feminina sobre como era a experiência de ‘amar uma mulher avantajada’. Ela vai, mais uma vez, atrás de perder peso, manda o ex tomar naqueles lugares e desabafar com a melhor amiga.

Até aí, tudo bem chick-lit. Mas, quando ela finalmente lê o artigo, onde o ex explica que se sentia mal por ela não se sentir bem com o próprio corpo e coisas mais ou menos fofas assim (eu teria matado meu ex independentemente do conteúdo do artigo, devo dizer), ela decide que o ex, Bruce, é na verdade o único que a entende e tenta voltar com ele.
Só que Bruce é uma alface apática, e dá um total gelo nela. E ela entra em crise.

Mais uma vez, as coisas continuam bem chick-lit, e eu imaginei que Bruce fosse se redimir da chatice e ela poderia ficar com ele OU ela acharia um cara bem mais legal que a ajudaria a ter uma auto-estima fodástica.

Contém Spoilers!!!

Só que aí o pai de Bruce morre, ela vai até lá consolá-lo e eles fazem sexo.
E ela engravida.

Primeiro que poxa, tem que tomar mais cuidado quando for consolar homens sem noção.
Segundo que ela resolve ter a criança mesmo com todo mundo falando pra ela que vai dar merda – especialmente depois que Bruce a ignora totalmente e ainda escreve um texto na tal revista feminina dizendo que acha que ela engravidou de propósito pra segurar ele e tal. MAS ela confia no destino e acha que vai dar tudo certo, mesmo ela tendo um emprego mais ou menos de jornalista onde ela vai ganhar metade do que ganha agora depois que tiver o bebê. Não que eu esteja dizendo que ela tinha que tirar, mas essa romantização de ‘vai dar tudo certo’ por causa do amor de mãe eu acho complicada.

Por outro lado, o livro aborda várias revelações importantes na vida da personagem que eu achei bem interessantes e com as quais me identifiquei. Discussões sobre a disfuncionalidade da família de Cannie, sobre o relacionamento dela com o Bruce,  sobre a questão de resolver ter e quase perder o bebê. São insights profundos que não se espera encontrar num livro desses.
Mas, quando você começa a admirar, apesar de todas as inverossimilhanças, o estilo da autora… ela termina o livro quando Cannie ‘finalmente’ encontra um grande amor perfeito.

Porque aceitar sua família, seu corpo e suas perdas não é tão importante quanto achar o cara certo.

Aí ninguém sabe porque todas as mulheres nesse mundo são complexadas.

Mas agora eu quero discutir as opções da autora. Pelo que eu entendi, a moral da história é: 1. pra ser feliz, só encontrando o cara perfeito e 2. se engravidar de imprevisto, tenha o bebê porque vai dar tudo certo!!
Cannie chega a essas conclusões da seguinte forma: ela é jornalista, né, e fica melhor amiga de uma estrela de cinema mega louca. A cena em que as duas se conhecem é de filme, e é a parte mais engraçada do livro. Aí quando ela resolve ter o bebê apesar de tudo, a tal atriz telefona e diz que a-do-rou um roteiro que Cannie entregou a ela numa noitada de bebedeiras, que vai apresentá-la pra uma agente fodástica e que ela vai receber direitos autorais enormes pelo resto da vida. Veja só que sorte, agora ela não vai mais precisar se preocupar com dinheiro nem trabalho quando tiver o bebê! [ah, e a atriz também compra um apartamento novo pra ela e o remodela com tudo do bom e do melhor]
E aí, quando Cannie quase perde o bebê (e perde o útero) num acidente bizarro, ela entra em depressão e perde peso loucamente. Como se realmente fosse essa a única forma de se perder peso, né gente. E só então que ela resolve que prefere o corpo dela gordinho. E se apaixona pelo magérrimo, charmosérrimo e riquérrimo médico do centro de emagrecimento, que ‘gosta dela mesmo gordinha’.

Que bom que dá tudo certo com ela, né gente?

Mas eu sinceramente não sei. Tem gente que gosta de livro ‘real’, no sentido de narrar uma história que ‘possa ter acontecido’ mesmo sendo ficção. Eu gosto daquele trecho que o Tolkien escreveu (when you  are, as you were, inside) que o mundo, mesmo o fantasioso, tem que fazer sentido interno pra que haja verossimilhança. E nesse sentido achei esse livro bem fraquinho. Ele não é uma comédia, não se sustenta como drama, e é irreal demais pra ser uma comédia dramática. Fica sempre no meio termo, nunca entregando o que se propõe. Por que uma gordinha precisa passar por uma vida completamente traumática pra só então ser feliz? Por que ela não pode se olhar no espelho e se ver bonita sem todo esse drama? Por que precisa ter um filho pra se encontrar no mundo? Por que ela não merece uma comédia romântica tradicional, pombas??

Quero muito ler Em Seu Lugar, mas realmente espero que seja melhor do que esse.

Em tempo. Bom De Cama é o nome da coluna que Bruce escreve na revista feminina. E não, a coluna não aparece tanto assim pra merecer o nome do livro. Mas enfim. A minor problem, I would say.

Good In Bed (2002) de Jennifer Weiner. Série Cannie Shapiro Livro 1

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