Fazia tempo que não via algo tão diferente na estante de policiais: um detetive particular indiano!
Claro que fui logo comprando, ainda mais porque a leitura prometia ser bem divertida.
Dito e feito. Vish Puri, o detetive fundador da Mais Investigadores, é um senhor bastante parecido com Poirot e com Holmes: ele usa as técnicas de observação, como Holmes, e da psicologia, como Poirot. E, assim como o belga criado por Agatha Christie, ele tem um ego enorme e tem certeza de que é o melhor detetive do mundo.
No entanto, é chamado carinhosamente de Gorducho por sua família, é machista, apegado às tradições e não aceita críticas ao seu trabalho.
Um personagem bastante complexo, interessante e engraçado para ser nosso protagonista. Além dele, sua mamãe (que é chamada assim por todo livro: “a mamãe de Puri”) também se arrisca nas artes detetivescas, por mais que Gorducho a proíba e diga que mamães não foram feitas para serem investigadoras. Mamãe não dá a mínima e se mete em perseguições, interrogatórios e tocaias sem o menor problema, roubando a cena a qualquer momento em que aparece.
O caso da criada desaparecida, dentre tantas investigações matrimoniais (onde a família da noiva contrata Puri para descobrir os antecedentes do noivo), é o que está destruindo a carreira do juiz excepcionalmente honesto Ajay Kaliswal (a corrupção na Índia é mostrada no livro como normal e absurda), que foi acusado pela oposição de ter assassinado sua criada Mary.
Mas Kaliswal alega que a garota sumiu há dois meses e que ele não tem idéia de onde ela esteja. E encarrega Puri de encontrá-la para que ele se livre das acusações e possa resumir seu trabalho ao colocar políticos desonestos na cadeia.
Além do trabalho hercúleo de encontrar uma garota Mary – sem o sobrenome, sem o endereço – num país de mais de um bilhão de habitantes, Puri sofre um atentado a tiros (o qual mamãe insiste em investigar por sua conta) e é encarregado por um ex-coronel do exército de investigar o noivo da neta dele.
Me surpreendi com os personagens e situações no livro, já que a Índia moderna me é um mistério completo: apesar de terem assimilado muitos dos costumes ocidentais, os indianos ainda são um povo único de cultura plural. Ao mesmo tempo, situações típicas de terceiro mundo, como trens lotados e estradas impossíveis, se tornam mais caricatas pelo fato de que são mais de um bilhão de pessoas de classes sociais diversas: então há pessoas escalando o teto do trem para conseguir viajar e enquanto tem carroças na auto estrada.
Tirando a ambientação exótica, o romance policial em si não deixa nada a desejar, e a esposa tranquila, a amiga ex-espiã, a mamãe e os empregados de apelidos bizarros (Descarga, Lanterna e Cosmética são exemplos) são coadjuvantes de peso que transformam o livro numa leitura divertidíssima.